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Há algo estranho na
atual corrida presidencial. Imenso setor do eleitorado não sabe ainda em
quem votar e mostra indiferença pelo importante pleito, em decorrência
de um descompasso crescente da população com aqueles que devem
representá-la.
O comunicado do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira
– (IPCO) “O Brasil ante o perigo esquerdista e o vácuo político”,
aponta uma causa muito sensível. O IPCO observa que para a maioria dos
políticos a-ideológicos, a corrida para a esquerda é sinônimo de
popularidade triunfal.
Movidos por tal
ilusão, até mesmo políticos convictamente centristas (ou até um ou outro
direitista) relegaram ao abandono todo o potencial político de que
disporiam, caso se opusessem com firmeza à esquerdização dissolvente que
vai arruinando o País.
Assim, a parte mais
substancial do mundo político pôs sua mira na esquerda, errando o alvo
de sua pontaria publicitária que deveria estar no centro, de si
conservador.
Um centro conservador não adepto de um imobilismo total, mas favorável à manutenção de uma determinada ordem de coisas.
Plinio Corrêa de
Oliveira, o líder católico cujo pensamento e métodos de ação inspiram o
Instituto que leva seu nome, sempre alertou para o desacerto gravíssimo
entre importantes setores do mundo político e a parte mais preponderante
e sadia de nossa opinião pública.
Segundo ele, um
equívoco, manuseado por políticos verdadeiramente esquerdistas, por
clérigos progressistas e favorecido ainda por hábeis táticas de
propaganda, fez crer a muitos que a opinião pública brasileira constitui
um imenso caudal a caminhar gradualmente para a extrema-esquerda.
Como observava
Plinio Corrêa de Oliveira, no grande centro conservador há tendências
ora para a direita, ora para a esquerda, que, entretanto, não cindem o
imenso bloco majoritário fundamentalmente centrista.
Convém ainda precisar que o conservantismo brasileiro possui notas mais acentuadamente psicológicas do que ideológicas.
É generalizada nele a
persuasão de que, diante de um mundo cheio de incertezas e de crises,
quaisquer solavancos, reformas ou aventuras poderão ser fatais. E todos
nele anseiam, ao contrário, por segurança e estabilidade.
Há, portanto, um desacerto fundamental entre o mundo político e a parte preponderante da opinião pública.
Por isso, o País
vive um angustiante paradoxo: quase todas as candidaturas de peso tendem
para a esquerda (mais ou menos radical) e a maioria da população,
centrista e conservadora, não encontra representante de projeção que com
ela se identifique.
Tal distorção faz
com que muitos não possam expressar reflexões, ideais, e sugestões
políticas, sociais e econômicas que acalentam no fundo da alma.
Abafados assim em
suas legítimas aspirações, sem candidatos que as vocalizem e compelidos,
por outro lado, pela obrigatoriedade do voto, muitos buscam uma válvula
de escape, algum candidato que possa parecer uma contestação a esse
sistema.
Isso torna a escolha
eleitoral um exercício altamente volúvel, imprevisível, marcado pela
impulsividade, pelas reações temperamentais, por uma certa torcida, às
quais, na maioria das vezes, estão alheios a observação, a reflexão e o
planejamento da ação.
Por sua vez, o mundo
político gira em torno de si próprio, numa disputa necessariamente
conturbada, marcada por atitudes puramente subjetivas, por reações
impulsivas.
E o debate sério de
temas profundos e de programas de governo fica trocado pelos ataques
rasteiros, pelas mentiras deslavadas, pelos truques de propaganda.
É claro que o brasileiro inteligente, cordato e conservador não se sente interpretado pelo ambiente dos políticos.
(*) Adolpho Lindenberg é presidente do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (IPCO)
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