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Manifestações:
Imprensa deve explicações ao povo brasileiro
Abdicando
completamente do senso crítico, quase toda a imprensa, inclusive a Globo, se
comportou como incendiária nos protestos e, ao brincar com fogo, pode abrir
caminho para uma reforma política bolivarista
José Maria e Silva
Parafraseando Hegel, Marx afirma em uma de suas obras
mais conhecidas, o “18 Brumário de Louis Bonaparte”, que os fatos e
personagens de grande importância no mundo ocorrem duas vezes: a primeira como
tragédia, a segunda como farsa. Tanto a frase original de Hegel quanto a
paráfrase de Marx não têm qualquer valor científico, nem mesmo filosófico. Mas,
no caso de Marx, a paráfrase serve bem à verve polemista com que ele transforma
em caricatura o sobrinho de Napoleão Bonaparte, que, tentando imitar o tio, deu
um golpe de Estado e se tornou um efêmero imperador francês. Louis Bonaparte
também é abordado por Machado de Assis no personagem Rubião, do romance
“Quincas Borba”.
Agora, diante da onda de protestos em todo o Brasil, a
frase de Marx pode voltar a ser útil como metáfora. Afinal, o Maio de 68 está
se repetindo pela segunda vez, mas como farsa. Se há 45 anos, quando fizeram
barricadas nas ruas de Paris, os jovens tinham de enfrentar os adultos, hoje
são os próprios adultos que lhes entregam as pedras e os incitam a ir às ruas,
numa atitude totalmente irresponsável. A onda de protestos que assola o Brasil
não nasceu espontaneamente, como a imprensa insiste em dizer. O movimento
começou com o Movimento Passe Livre, mantido por partidos de extrema esquerda,
incluindo setores radicais do PT, e ganhou força ao contar com o apoio amplo,
geral e irrestrito da imprensa — que vive um dos momentos mais vergonhosos de
toda a sua história.
Exemplo disso foi a capa do jornal “O Popular” de
quinta-feira, 20. Encimada pela hastag “#naruahoje”, a referida capa trouxe a
foto de quatro mulheres e dois homens, de várias idades, portando cartazes com
uma só palavra escrita em vermelho que, no conjunto, formavam a frase: “Eu vou
e não quero violência”. Ora, deve haver goianos que repudiam essas
manifestações. Elas prejudicam o comércio, aumentam a insegurança na cidade e
causam sérios transtornos para milhares de pessoas, principalmente as que
dependem do transporte público. Mas “O Popular” ignorou esses cidadãos. Tratou
a população goiana como se ela fosse unanimemente a favor dos protestos.
Preferiu ser panfleto de grêmio estudantil, fazendo convocatória em vez de
jornalismo.
Mas o histórico veículo do Grupo Jaime Câmara não está
sozinho nessa conduta editorial equivocada. A imprensa brasileira, com raras
exceções, abdicou do jornalismo para abraçar a militância. Especialmente o
jornal “Folha de S. Paulo” e o canal Globo News, que se tornaram uma espécie de
projeto de extensão da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professores universitários pontificavam sobre
os protestos, relacionando-os até com o democrático projeto de lei do deputado
federal João Campos (PSDB-GO) que põe o Conselho Federal de Psicologia em seu
devido lugar, mas que foi indevidamente apelidado pela imprensa e pela academia
de Projeto da “Cura Gay”.
Contradições da imprensa
Até a cobertura do jornal “O Estado de S. Paulo”
acabou favorecendo os manifestantes. No início dos protestos, o “Estadão”
publicou contundentes editoriais defendendo o direito de ir e vir dos cidadãos
e conclamando as autoridades paulistas a não deixar que esse direito fosse
subtraído pelo vandalismo. Mas o noticiário do Estadão — especialmente o que é
publicado na Internet e tem maior visibilidade entre os jovens — frequentemente
contradisse seus editorais, minimizando as depredações ao descrevê-las como uma
reação à truculência da polícia. Essa dicotomia criada pela imprensa entre o
manifestante pacifista e o policial truculento se agravou quando jornalistas
foram feridos nos protestos.
A partir daí, o noticiário desandou de vez e perdeu
completamente o senso crítico, colocando-se a serviço dos manifestantes. Foi o
que se viu na Globo News, que armou em seu estúdio uma espécie de fórum
permanente de acadêmicos, em que professores de ciências humanas,
invariavelmente, enalteciam as virtudes das manifestações de rua e condenavam a
autoridade do Estado. O surrealismo era tanto que, nas ruas de São Paulo, Rio
de Janeiro e outras capitais, enquanto as imagens de carros incendiados e
patrimônio depredado saltavam da tela, os repórteres da emissora enfatizavam
que o protesto transcorria de forma “tranquila e pacífica”.
Irônico é que esses mesmos repórteres, tão logo os
protestos ganharam corpo no País, passaram a trabalhar sem o logotipo da
emissora nos microfones, temendo a agressão dos manifestantes. Em várias
ocasiões, as equipes de reportagem foram hostilizadas pela turba. A Rede Record
teve um carro queimado num dos protestos. O SBT também sofreu uma baixa do
gênero. E a Rede Globo teve um de seus estúdios ameaçados. Mas a se crer no
noticiário dessas mesmas emissoras, a culpa do vandalismo foi de uma minoria de
manifestantes “pacíficos e tranquilos” e, ainda por cima, só ocorreu em reação
à violência da polícia. É como se o fato de dificultarem a atuação dos
policiais, negando-lhes o itinerário das passeatas, não fosse um ato de
explícita cumplicidade com os vândalos.
Só os jornalistas dos programas mundo cão, como
Marcelo Rezende, da Record, e José Luiz Datena, da Band, é que evitaram
atribuir a violência aos policiais, pois precisam deles no dia a dia para
alimentar seus respectivos telejornais regados a sangue. Mesmo assim, também
eles repetiam que a manifestação era um direito da população e que os vândalos
não passavam de uma minoria.
No caso da Record, Marcelo Rezende tentou atribuir
os protestos a uma boa causa — a revolta popular contra os gastos públicos para
que o Brasil sediasse a Copa de 2014. Não por um bom motivo, mas pelo despeito
empresarial da emissora de Edir Macedo, que não poderá transmitir os jogos da
Copa, monopólio da Rede Globo.
Cadê a nova classe média?
O ativismo do jornalismo brasileiro beirou o
inacreditável. A jornalista Leilane Neubarth, da Globo News, cantava loas aos
jovens que foram para as ruas, secundada por professores universitários que
davam plantão no estúdio da emissora criticando a polícia. É lamentável ter que
dizer isso, afinal, eu vivo da profissão de jornalista, mas o jornalismo
brasileiro está próximo da barbárie intelectual.
Em média, repórteres, âncoras
e até editores deviam agradecer o ministro Gilmar Mendes, do STF, pelo fato de
terem sido chamados de “cozinheiros”. Ao menos durante a cobertura dos
protestos, muitos deles não mereceram sequer esse elogio. Afinal, o cozinheiro
ao menos é obrigado a conhecer a receita que prepara.
E não são apenas repórteres e âncoras de televisão que
parecem desconhecer a história do País — até profissionais experimentados do
jornalismo impresso demostraram incultura ao comentar as manifestações,
limitando-se a repetir e apoiar as frases de efeito da horda de jovens que
paravam as cidades. É o caso da jornalista e colunista da “Folha de S. Paulo”,
Eliane Cantanhêde, que também é comentarista da Globo News. Ela reforçou o tom
de torcida organizada adotado pela emissora e, concorrendo com os acadêmicos
convidados, procurou atribuir os protestos à uma justa insatisfação da
população brasileira com “tudo o que está aí”.
Ora, não foi a imprensa brasileira — com o apoio dos
cientistas sociais — que deu curso à falsa tese de que existe uma nova classe
média no Brasil? Não vi nenhum jornalista dissecar e contestar os dois estudos
coordenados pelo economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas,
mostrando, como eu fiz, que a “nova classe média” não passa de um mito político
criado a partir de uma manipulação estatística.
O economista da FGV baixou
radicalmente os parâmetros de renda familiar e, com isso, “enriqueceu” num
passe de mágica cerca de 40 milhões de pobres, que passaram a ser chamados de
“classe média”. Esse falso “milagre brasileiro” contribuiu enormemente para a
altíssima popularidade do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e para a
eleição da presidente Dilma Rousseff.
Criando novas ficções
Após concluir o estudo com sua equipe da Fundação
Getúlio Vargas, Marcelo Neri lançou no Palácio do Planalto, em 28 de agosto de
2008, o conceito de “nova classe média”, durante um evento que contou com a
presença do então presidente Lula e seus ministros, entre eles, Dilma Rousseff.
Para o economista, que acabou presenteado por Dilma com a presidência do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), toda família que tem renda “per
capita” igual ou superior a R$ 291 já é classe média.
E se tiver renda per
capita superior a R$ 1.019, já é classe alta. Em suma: se a família não estiver
mendigando debaixo da ponte, então ela já é computada como classe média pelo
governo. Foi com esse golpe estatístico que Lula se tornou o autor de uma peça
de ficção: “Dilma no País das Maravilhas” — materializada nas urnas em 2010.
Como se vê, desde 2008, a imprensa brasileira ajudou a
disseminar a ficção econômica de que havia uma nova classe média no Brasil,
responsável por transformar o País numa potência mundial. E também contribuiu
com o estelionato eleitoral praticado por Lula em 2010, quando o líder petista
conseguiu eleger um poste com base, sobretudo, em duas ilusões: a realização da
Copa e das Olimpíadas, que trariam obras, divisas e prestígio, e a renda do
pré-sal, que faria do Brasil uma potência planetária. A imprensa acreditou
tanto nesses mitos petistas que agora se queda perplexa diante das ruas
convulsas, sem saber como explicar o descontentamento da população. E quanto
tenta fazê-lo, cria novas ficções.
Sempre querendo se colocar na vanguarda dos protestos,
alguns articulistas e âncoras resolveram colocar na boca dos manifestantes
reivindicações que eles não fizeram a sério. Depois das cenas dantescas da
noite de quinta-feira, quando mais de 1 milhão de manifestantes rugiram pelas
ruas de cerca de 120 cidades no País, a imprensa tentou achar uma nova pauta
capaz de pôr ordem no caos.
Na Globo News, a jornalista Renata Lo Prete citou
uma frase que disse ter ouvido de um “observador perspicaz” e que lhe agradou
muito: “Antes, as pessoas protestavam contra o que os governos faziam de
errado. Agora, elas protestam contra o que eles deveriam fazer e não fazem”. E
arrematou o comentário dizendo que os protestos se devem à falta de qualidade
do serviço público.
A Constituinte exclusiva
O jornalista Merval Pereira, também na Globo News,
condenou as autoridades por entregarem as ruas aos manifestantes, lembrando que
isso não ocorre em nenhuma cidade do mundo; mas conferiu legitimidade ao
movimento, alegando que “a atividade política, do modo como é feita hoje, não é
aceita por mais ninguém”.
Com base nessa premissa equivocada, Merval Pereira
defendeu “uma Constituinte exclusiva para fazer a reforma política” — proposta
que já foi aventada por Lula e agrada sumamente o PT.
Seis senadores, entre eles Cristovam Buarque
(PDT-DF), já assinaram, na quinta-feira, 20, uma proposta de Constituinte
exclusiva. O problema é que, se em 1986, com uma Constituinte não exclusiva e
um País menos aloprado, a Constituição de 88 já nasceu torta, pregando retalhos
socialistas no tecido da sociedade capitalista, imaginem o estrago que faria
uma Constituinte exclusiva num País tomado pelo extremismo de rua, estrumado na
surdina pelo PT?
É irônico, se não fosse trágico, que essa mesma gente que quer
fazer Constituinte a partir da baderna, se recusa a reduzir a maioridade penal
com base em sóbrias pesquisas de opinião, repetidas há décadas, com o mesmo
resultado esmagadoramente favorável à redução.
O PT, começando pela presidente Dilma, tentou
capitalizar os protestos, enquanto eles eram mais fortes em São Paulo e podiam
ser usados contra o governo tucano. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo
(que até o jornalista Luís Nassif considera o pior da história da pasta), agiu
com extrema irresponsabilidade ao tentar criar o caos em São Paulo, oferecendo
uma cínica ajuda ao governador Geraldo Alckmin pela imprensa e
responsabilizando a polícia paulista pelos distúrbios.
Essa tática petista de ser, ao mesmo tempo, situação e
oposição dessa vez deu errado e, já nos protestos de quinta-feira em São Paulo,
o PT, que também foi para as ruas, teve de recolher suas bandeiras. E a baderna
só não tomou de assalto o Palácio do Planalto porque Dilma se escondeu atrás de
um imenso batalhão de fardas, fortemente armado e pronto para cair sobre a
multidão.
Foi a maior derrota política do PT desde que o partido chegou ao
poder em 2002. Lula ainda está em silêncio e Dilma, encurralada. Ela só se
pronunciou na noite de sexta, quando a irresponsabilidade e a omissão deram
lugar ao voluntarismo — sem deixar de flertar com as turbas de esquerda.
A liberdade ameaçada
Justamente agora é que os setores democráticos da
sociedade brasileira — que acreditam na liberdade do indivíduo e na economia de
mercado — não podem dormir tranquilos. A maioria dos jovens que foi às ruas, ao
contrário do que insiste em dizer a imprensa, não tem compromisso sério com
nada. Estão apenas “curtindo”, como se estivessem numa balada de fim de semana.
É mais do que notório que, na maioria das cidades brasileiras, os manifestantes
se comportavam como se estivessem num carnaval. E como foram para as ruas sem
um palanque montado e sem uma polícia avisada (mais essenciais para a ordem do
que a pauta de reivindicações), o vandalismo foi inevitável, por mais que
jornalistas e autoridades pensem o contrário.
Nenhum país sobrevive com o povo em convulsão nas
ruas, inviabilizando as atividades produtivas. Quem vai indenizar os
comerciantes que tiveram suas lojas saqueadas? É justo o contribuinte arcar com
a depredação do patrimônio público? Que direito tem a turba de impedir as
pessoas de se locomoverem para o trabalho, a escola, a casa, o hospital?
Mais
cedo ou mais tarde, a insanidade do jornalismo e a omissão das autoridades
terão de ceder lugar à normalidade. Mas o PT, que detém o poder no País, está
disposto a usar essa força sem segundas intenções? Duvido. A tendência é que o
partido, ao mesmo tempo em que tentará fortalecer o poder federal, também
tentará enfraquecer os Estados. A necessidade de garantir a realização da Copa
pode ser o pretexto que faltava ao partido para aumentar seu poder.
O atual Congresso Nacional, um dos piores da história
do Brasil, não tem condições de oferecer resistência ao Executivo. Prova disso
é que aceitou discutir um projeto imoral, de autoria dos senadores Marcelo
Crivella (PRB-RJ), Ana Amélia (PP-RS) e Walter Pinheiro (PT-BA), que altera o
Código Penal e institui uma espécie de AI-5 da Copa, criando punições draconianas
relacionadas com a realização dos jogos.
Esse projeto — que afronta a Constituição
ao desigualar os brasileiros perante a lei — foi aprovado pela Comissão de
Educação, Cultura e Esporte do Senado no dia 4 de junho último. Uma coisa é
certa: com a revolta midiática das ruas, as nossas autoridades políticas — cada
vez mais infantis e pusilânimes — vão se juntar em busca de uma solução mágica.
A Constituinte exclusiva deve ser esse novo emplastro Brás Cubas. E se essa
proposta prevalecer, o Brasil vai cumprir o ideal da esquerda — e se tornar uma
imensa Venezuela.
Fonte: Jornal Opção
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Desde antes dos algozes da PEC nº 37/11 passarem a usar dolosamente como Papagaios de Pirta as manifestações para panfletarem contra esta Emenda Constitucional pereginei como vítima de erros judiciários nos gabinetes dos Deputados e Senadores e Comissões de Direitos Humanos tentando mostrar que a mídia havia encampado um enfoque inverídico plantado pelos promotores nazistas e pelos bandidos de toga do judiciário, até em Ministérios STF, CNV e CNJ estive além de Comitê de Anistia mas até Cristiana Lobo da GloboNews eu contactei e não quiseram me dar ouvido é só ler nos meus blogs e correspondência a matéria que elaborei com o engoque o ENGÔDO dos defensores da rejeição da PEC nº 37/11; Nem mesmo o Dr . Gilmar Mendes com quem mantive contato na Sala de Espera de onde se era conduzido para o Fórum Mundial de Saúde pode sequer me dar a devida atenção... Conversei até com o Dr. Márcio Thomáz Bastos na galeira de espera do STF... Espero que agora possam ser humildes e darem atenção as vítimas de erros judiciários que são tão relevantes quantos os em teto, sem terra, os indígenas e os aposentados... https://www.memoriasdeadalbertoduarte.blogspot.com;
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