Forno da usina ocupada pelo MST servia para desaparecer com as provas dos crimes de assassinato, durante a ditadura
O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) ocupou nesta sexta-feira o parque industrial da Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense. Segundo oMST, cerca de 200 famílias entraram na área durante a madrugada. O grupo montou acampamento e iniciou a produção gêneros alimentícios, enquanto cobra maior agilidade na desapropriação das terras da Cambahyba. Quer também chamar atenção para o papel do proprietário no apoio à repressão durante a ditadura militar.
– É uma propriedade improdutiva, e a demora na desapropriação, pela Justiça, é um absurdo – disse o porta-voz do movimento, Fernando Moura.
As terras pertencem à família de Heli Ribeiro Gomes, falecido vice-governador do Rio de 1967 a 1971. Em livro lançado este ano, o ex-delegado da Polícia Civil do Espírito Santo Cláudio Guerra acusa o político de ter permitido o uso do forno da fazenda para a incineração de corpos de, ao menos, dez opositores à ditadura militar, mortos sob tortura. A família nega as acusações. O MST pede ainda a instalação de um memorial aos militantes.
A Usina é um complexo de sete fazendas, que tem, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no estado, 3,5 mil hectares. O processo de desapropriação começou em 1995, quando o Incra fez o pedido. Três anos depois, os proprietários conseguiram reverter a decisão. A disputa está nos tribunais. Em 2000, a fazenda foi ocupada por integrantes do MST, despejados em 2006.
Há dez anos a Usina Cambahyba arrendou a propriedade à Usina Santa Cruz, produtora de cana-de-açúcar. Em agosto último, o juiz da 2ª Vara Federal em Campos, Dario Ribeiro Machado Junior, decidiu pela desapropriação. Os donos das terras recorrem da decisão em segunda instância.
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