Repórter relata rompimento de 'bolha' de normalidade em Tel Aviv
BBC Brasil
De acordo com as instruções das autoridades, quando soa o alarme antiaéreo o cidadão deve correr para o bunker ou para o chamado 'espaço protegido' dentro do próprio apartamento.
Na manhã deste domingo, os alarmes antiaéreos soaram pelo quarto dia consecutivo em Tel Aviv, desde o inicio da chamada Operação Coluna de Nuvem.
Moradora da cidade, a repórter da BBC Brasil em Israel, Guila Flint, conta como a nova onda de violência vem alterando o dia a dia:
"O som alto e lúgubre das sirenes mexe com os nervos da população e rompe a sensação de segurança que havia na maior cidade de Israel.
De acordo com as instruções das autoridades, quando soa o alarme antiaéreo o cidadão deve correr para o bunker ou para o chamado 'espaço protegido' dentro do próprio apartamento.
Só que eu moro em um prédio velho, no centro de Tel Aviv, que foi construído ainda na época do Mandato Britânico, em 1921.
Aqui não tem bunker. Também não tenho o tal 'espaço protegido' no meu apartamento.
Desde a Guerra do Golfo, em 1991, a lei de Israel obriga todas as construções novas a terem um espaço especial em cada apartamento, no qual as paredes são reforçadas e as janelas são de ferro.
Na ausência de tal espaço e de um bunker, as autoridades recomendam correr para a escadaria do prédio, de preferência para um andar que não seja o mais alto.
Quando corro para a escadaria encontro vários dos meus vizinhos, muitos deles idosos.
Outro dia, quando soou o alarme, me deparei com uma vizinha tremendo e chorando no segundo andar. Tentei acalmá-la.
Eu já morava em Tel Aviv em 1991, quando 45 mísseis iraquianos do tipo Scud foram lançados contra a cidade durante a Guerra do Golfo.
Aquela guerra, que durou um mês e meio, com alarmes antiaéreos constantes, de alguma maneira me preparou para esse tipo de experiência.
Naquela época, além do perigo de explosões, também se falava do risco de que o Iraque lançasse bombas químicas contra Israel e foram distribuídas máscaras de gás a toda a população.
Outra diferença é que em 1991 Tel Aviv era o principal alvo, e agora a cidade é um alvo secundário comparando com as cidades do sul do país.
Dos mais de 800 disparos contra o território israelense, apenas 4 foram contra Tel Aviv. São as cidades de Ashdod, Ashkelon, Beer Sheva e Sderot, no sul, que estão realmente sofrendo com o contínuo sobressalto das sirenes.
Ontem falei com uma brasileira que mora na cidade de Gaza. O que os israelenses estão passando no sul é bem ameno comparando com o que os palestinos estão vivendo na Faixa de Gaza.
Lá já houve mais de 900 ataques das tropas israelenses, com a Força Aérea, a Marinha e a artilharia.
A brasileira palestina relatou que "tudo treme o tempo todo e parece que o mundo vai acabar" desde quarta-feira.
Tel Aviv é chamada de "bolha", considerada uma ilha de normalidade dentro desse oceano de violência e fanatismo que é o Oriente Médio. Uma cidade tolerante e cosmopolita, na qual a maioria da população quer a paz.
Aqui fica o reduto dos grupos pacifistas, das ONGs de direitos humanos, dos seculares.
Cada alarme antiaéreo que soa em Tel Aviv rompe mais um pouco dessa tênue bolha.
A terminologia utilizada pelos dois lados desse confronto tem conotações religiosas.
O nome dado por Israel à operação militar, Coluna de Nuvem, é uma citação de um trecho da Bíblia.
Já o nome utilizado pelo Hamas é "Pedras do Céu", em referência a um trecho do Corão.
Grande parte da população dos dois lados do conflito é religiosa e acredita em algum tipo de proteção divina.
Aos seculares, como eu, resta acreditar na estatística. Afinal, a probabilidade de que um míssil iraniano do tipo Fajr, lançado a partir da Faixa de Gaza contra Tel Aviv, caia justamente na minha cabeça, é muito baixa. Mas, como já dizia John Lennon, Give Peace a Chance."
Moradora da cidade, a repórter da BBC Brasil em Israel, Guila Flint, conta como a nova onda de violência vem alterando o dia a dia:
"O som alto e lúgubre das sirenes mexe com os nervos da população e rompe a sensação de segurança que havia na maior cidade de Israel.
De acordo com as instruções das autoridades, quando soa o alarme antiaéreo o cidadão deve correr para o bunker ou para o chamado 'espaço protegido' dentro do próprio apartamento.
Só que eu moro em um prédio velho, no centro de Tel Aviv, que foi construído ainda na época do Mandato Britânico, em 1921.
Aqui não tem bunker. Também não tenho o tal 'espaço protegido' no meu apartamento.
Desde a Guerra do Golfo, em 1991, a lei de Israel obriga todas as construções novas a terem um espaço especial em cada apartamento, no qual as paredes são reforçadas e as janelas são de ferro.
Na ausência de tal espaço e de um bunker, as autoridades recomendam correr para a escadaria do prédio, de preferência para um andar que não seja o mais alto.
Quando corro para a escadaria encontro vários dos meus vizinhos, muitos deles idosos.
Outro dia, quando soou o alarme, me deparei com uma vizinha tremendo e chorando no segundo andar. Tentei acalmá-la.
Eu já morava em Tel Aviv em 1991, quando 45 mísseis iraquianos do tipo Scud foram lançados contra a cidade durante a Guerra do Golfo.
Aquela guerra, que durou um mês e meio, com alarmes antiaéreos constantes, de alguma maneira me preparou para esse tipo de experiência.
Naquela época, além do perigo de explosões, também se falava do risco de que o Iraque lançasse bombas químicas contra Israel e foram distribuídas máscaras de gás a toda a população.
Outra diferença é que em 1991 Tel Aviv era o principal alvo, e agora a cidade é um alvo secundário comparando com as cidades do sul do país.
Dos mais de 800 disparos contra o território israelense, apenas 4 foram contra Tel Aviv. São as cidades de Ashdod, Ashkelon, Beer Sheva e Sderot, no sul, que estão realmente sofrendo com o contínuo sobressalto das sirenes.
Ontem falei com uma brasileira que mora na cidade de Gaza. O que os israelenses estão passando no sul é bem ameno comparando com o que os palestinos estão vivendo na Faixa de Gaza.
Lá já houve mais de 900 ataques das tropas israelenses, com a Força Aérea, a Marinha e a artilharia.
A brasileira palestina relatou que "tudo treme o tempo todo e parece que o mundo vai acabar" desde quarta-feira.
Tel Aviv é chamada de "bolha", considerada uma ilha de normalidade dentro desse oceano de violência e fanatismo que é o Oriente Médio. Uma cidade tolerante e cosmopolita, na qual a maioria da população quer a paz.
Aqui fica o reduto dos grupos pacifistas, das ONGs de direitos humanos, dos seculares.
Cada alarme antiaéreo que soa em Tel Aviv rompe mais um pouco dessa tênue bolha.
A terminologia utilizada pelos dois lados desse confronto tem conotações religiosas.
O nome dado por Israel à operação militar, Coluna de Nuvem, é uma citação de um trecho da Bíblia.
Já o nome utilizado pelo Hamas é "Pedras do Céu", em referência a um trecho do Corão.
Grande parte da população dos dois lados do conflito é religiosa e acredita em algum tipo de proteção divina.
Aos seculares, como eu, resta acreditar na estatística. Afinal, a probabilidade de que um míssil iraniano do tipo Fajr, lançado a partir da Faixa de Gaza contra Tel Aviv, caia justamente na minha cabeça, é muito baixa. Mas, como já dizia John Lennon, Give Peace a Chance."
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