Jornalista
australiano denuncia descaso brasileiro ao infanticídio em aldeias
indígenas
Soraya Mendanha
O jornalista australiano Paul Raffaele manifestou
indignação, em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos (CDH) nesta
quinta-feira (29), com o que chamou de tolerância do governo brasileiro à
prática do infanticídio em tribos indígenas isoladas.
Durante cerca de duas semanas de convivência com os
índios Suruwahás, no Sudoeste do Amazonas, para produzir o documentário Amazon's
Ancient Tribe - First Contact, Paul constatou que o grupo incentiva o
assassinato de recém-nascidos deficientes ou filhos de mães solteiras, por
acreditarem que são maus espíritos.
O jornalista afirmou que a Funai, e consequentemente o
governo brasileiro, faz vista grossa à prática e que essa tolerância escapa de
sua compreensão.
- Acredito que a Funai seja o órgão errado para
administrar os territórios indígenas. O departamento está cheio de antropólogos
que querem proteger a pureza cultural dos índios, mesmo quando isso envolve
enterrar bebês vivos ou abandoná-los na floresta para serem comidos vivos por
onças e outras feras - destacou.
Paul Raffaele disse discordar da política da Funai e
do governo brasileiro de tentar manter tribos indígenas isoladas do resto da
sociedade. Segundo ele, ao agirem assim, concordam e aprovam com uma das piores
violações aos direitos humanos em todo o mundo.
- Não consigo entender por que não há, no Brasil, uma
grande discussão a respeito do assunto. Como o povo brasileiro aceita as regras
desses antropólogos? Não conheço nenhum outro país no mundo que aceite crianças
enterradas vivas - ressaltou.
O jornalista, que trabalha há cerca de 50 anos
visitando tribos isoladas, disse que, na maioria dos locais em que esteve, os
jovens queriam ter contato com o mundo externo para buscar formação educacional
e conhecimento. Raffaele afirmou que a Funai desencoraja esse tipo de atitude e
incentiva os índios a permanecer na “Idade da Pedra”.
- Eles não perguntam o que os índios, principalmente
os jovens, querem. Eles dizem a esses jovens o que devem fazer. Fecham as
tribos no que eu chamo de museu antropológico vivo - disse.
Raffaele lembrou que membros da Funai e do governo
brasileiro negam que ainda haja assassinato de bebês e crianças em tribos
indígenas, mas ressaltou que existem provas contundentes que comprovam a
prática, especialmente entre tribos mais isoladas.
- Não estou falando de algo que aconteceu há séculos.
Pode ter acontecido ontem e acontecer amanhã. Está na hora de o governo
brasileiro ficar do lado de todas as suas crianças e não apenas daquelas não
indígenas - disse.
O senador Magno Malta (PR-ES), autor do requerimento
da audiência, criticou a posição dos que defendem o ato como uma prática
cultural. Ele disse acreditar que a cultura é sempre menor do que a vida e que
não há justificativa para qualquer tipo de defesa à morte.
- Deus não criou a cultura, criou a vida - destacou.
Representantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
do Ministério Público e parlamentares presentes à udiência ressaltaram a
importância do tema e afirmaram que debaterão o assunto dentro dos órgãos, para
que possam ser desenvolvidos projetos que levem mais cidadania às comunidades
indígenas isoladas.
Os índios Suruwahá vivem em uma área no município de
Camaruã, no Sudoeste do Amazonas. O grupo, composto hoje por cerca de 140
pessoas, é também conhecido como “povo do veneno”, devido à prática e veneração
do suicídio, que constitui uma das características mais marcantes de sua
cultura.
O consultor legislativo Fabiano Augusto Martins
Silveira, representante do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP),
afirmou que as condutas verificadas na tribo podem ser classificadas não só
como infanticídio, mas também como homicídio. De acordo com ele, cabe aos
órgãos de proteção agir para impedir suicídios e homicídios.
- Não podemos ser tolerantes com aqueles que aceitam
ou propagam a morte - disse.
Fonte: Agência Senado
Divulgação: www.juliosevero.com
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