Desumanização x Perseguição Ideológica contra as maiorias
Por Marisa Lobo em 16 de janeiro de 2014
O Brasil está vivendo uma das suas piores crises. Como acontece em todo o mundo, vivemos uma desumanização onde um animal ou uma planta tem mais direitos que um ser humano. As leis são muito severas quando se maltrata um animal, corta-se uma arvore ou trafica-se um animal silvestre; enquanto crianças são violentadas a cada 8 minutos no Brasil, o tráfico humano para prostituição é ainda pouco combatido e seres humanos moram nas ruas em total descaso, sem a menor proteção e cuidado, marginalizados, como é o caso das cracolândias.
Verbas são priorizadas para lobby ideológico e político de gênero, enquanto é deixada de lado a proteção de seres humanos indefessos, como crianças abusadas e idosos; fato este acorrido em 2011, na comissão de direitos humanos que viabilizou verbas para campanhas contra homofobia e deixaram de lado campanhas contra abuso sexual infantil e de adolescentes, bem como campanhas contra agressão aos idosos.
Não que campanhas contra a violência aos adultos pelo seu gênero sexual, não sejam necessárias. Porém, pelo lobby político ideológico de gênero (GLBTT) consegue-se aprovação de verbas milionárias para defender tal causa, enquanto crianças e idosos ficam reféns e totalmente e desprotegidas, pois não tem um lobby tão organizado e respeitado, pela principalmente pela mídia.
Florestas são defendidas, mas a vida humana de um índio, por exemplo, não. Como é o caso do infanticídio em muitas tribos indígenas, aqui mesmo no Brasil.
O governo privilegia setores mais avançados do capitalismo, de interesses de grupos que detém o 4º poder (a mídia) e pode, com sua influencia e poder de alienação, destruir e/ou construir uma imagem falsa para um problema verdadeiro, como lhe convém. Além disso, reprimem grupos sociais de defesa da vida, simplesmente usando o recurso da desconstrução ou do descaso, bem como da marginalização.
Grupos de poderosos se reúnem e ditam regras de interesse comum; e vejo que as regras de interesse comum têm sempre a ver com capitalismo, poder político, ideológico, midiático e financeiro, e pouco tem a ver com a proteção do ser humano. Hoje, os ideológicos que participam das decisões, infelizmente, nem de longe representam ou se preocupam com a real situação humana, pois nunca as vivenciaram. Nem hipoteticamente lhes interessa se colocar no lugar do outro, dos menos favorecidos.
Preocupo-me como cidadã com a ideologia da mudança de paradigmas, pois eles, em muitas situações, protegem e não reprimem o cidadão e/ou a nação, como querem fazer crer a humanidade. Reconheço que há paradigmas que protegem, porém outros reprimem. Temos que saber, com honestidade intelectual, diferenciá-los, para podermos quebrá-los ou não.
A efetivação da “mudança de paradigma cultural” foi dada mediante o seguimento de diretrizes políticas cunhadas para:
» Reverter o pensamento de progresso como sendo de caráter vocativo da humanidade;
» Instituir o conceito de um Estado Nacional que deve promover o bem-estar e o progresso, destituindo a ideia de um republicanismo;
» Promover o hedonismo e o individualismo.
A especulação como fim em si mesmo, sem vínculos com o real, seria a essência da “globalização”?
A sociedade está se tornando cada vez mais relativista, não gosta e não quer cumprir regras e ou deveres e se rebela com questões que considera como regras fechadas, acreditando ser tudo uma imposição, ou uma normativa. De tempos em tempos, como em um ciclo vicioso, tentam de alguma forma quebrar tais paradigmas, atestando que eles podem e devem ser quebrados, pois o ser humano tem direito de viver conforme ele deseja; o que concordo, em partes, pois realmente algumas regras podem e devem ser quebradas, mas nunca de forma generalizada, pois cada caso é um caso.
O que se vê é uma tentativa de reorientação social, imposta por grupos de uma minoria poderosa que detêm o poder de arregimentar a grande massa, a transformando em uma massa de manobra política e ideológica, deixando totalmente de lado os direitos e desejos da maioria. Maioria essa que tem o direito de viver conforme sua fé, por direito e vontade, e que está sendo desrespeitada constitucionalmente.
As oligarquias agem mediadas por muitas instituições de planejamento estratégico, que trabalham em prol da “engenharia social”. A efetivação da “mudança de paradigma cultural” foi dada mediante do seguimento de diretrizes políticas que cunhavam por:
Promoção da contra da “contracultura” – inseminada de drogas entorpecentes –, popularizar internacionalmente o rock – antes de pouca abrangência nos Estados Unidos – e a “revolução sexual”. Em consequência, o conceito de família mudou de características. Ocorreu também a ascensão do misticismo, denominada “Nova Era”.
Na contemporaneidade os indivíduos passaram a exigir seus direitos, mas esqueceram de que também possuem deveres; a honra e a honestidade, por exemplo, parecem não mais existir.
No contexto da globalização está o narcotráfico, que cada vez mais se dissemina em todos os países, dos menos desenvolvidos aos mais promissores. Interessante o livro “A Rainha do Sul” 32, de Arturo Pérez-Reverte, que trata justamente da fácil circulação das drogas provenientes da América do Sul em direção ao sul espanhol e Marrocos, abastecendo os mercados da Europa. E também o aborto, e todas as culturas de morte sendo impostas a uma população deixando-a em conflito, pois esta maioria escolheu, por direito, afinidade e crença, no caso do nosso país (Brasil), viver conforme o entendimento de sua fé. Porém, esse direito alienável de liberdade religiosa tem sido desrespeitado pelos mesmos “direitos humanos” que visam proteger a liberdade religiosa.
Precisamos ser honestos. Muitos paradigmas nem sempre são algozes e ou fazem mal à humanidade. O ser humano precisa de um norte. Direção, socialização, regras e etc., fazem parte da boa convivência, e muitas delas contribuem para o bem estar de uma nação. Aí, se dá a crise, eu quebro um paradigma e essa quebra se torna pior do que as regras que quebrei. Mas, infelizmente, só poderei sentir seu peso após um desastre social, como o aumento dos casos de prostituição, da violência, de doenças sexualmente transmissíveis, problemas sexuais e etc. Não posso, por irresponsabilidade, quebrar um paradigma apenas para ser da turma do contra ou por discordar de uma teoria ou uma religião, pois dessa forma entraremos em crise e quebraremos direitos.
Assim, seria mais prudente perguntar: como podemos frear a “mudança de paradigma cultural” que as oligarquias impuseram? Talvez seguindo o exemplo dos chineses, que colocam na crise a configuração de novas oportunidades; de outra “Idade das Trevas” em direção a um Renascimento, de modo a retomar expectativas deixadas de lado no passado.
É fato que quando lutamos por direitos é necessário que alguns paradigmas possam ser quebrados, pois podem estes ser decorrentes de imposição política, social ou mesmo de grupos religiosos que detém o poder. Entretanto, a manipulação de possíveis grupos que possam assumir este mesmo poder podem gerar mais paradigmas. Ou seja, imposição por imposição, sem levar em conta o que a maioria pensa e sente, pode gerar conflitos ainda maiores.
O paradigma quebrado se torna uma imposição tão alienadora quanto o antigo que tanto era criticado. Então, a crise paradigmática se instala. É um ciclo que só terá fim quando os que detêm o poder tiverem o ser humano como foco, e não suas bandeiras ideológicas e políticas e religiosas.
Em outra esfera está à violência, já banalizada na vida cotidiana e nos meios televisivos, tornando a força um valor ético e favorecendo o pragmatismo. A falta de ética, sobretudo a financeira, que permeia o início do século XXI, acarretou em um aumento das fraudes fiscais e das especulações, transformando os sujeitos em seres isentos de moralidade. A coesão social é desmantelada pelo individualismo e pelo senso competitivo, e isso se dá em uma esfera global, aos moldes do capitalismo.
Mudanças tecnológicas permeiam a contemporaneidade, conduzindo os cidadãos a uma vida com qualidade reduzida, denunciada até mesmo pela “Expo 2010”, em Xangai. Toda essa tecnologia aumenta as margens de lucros das empresas, e o consumo é estimulado. O “ter” (material) torna-se mais importante que o “ser” (humanismo), e o ocidente então, a fim de tentar equilibrar-se, aposta nas terapias alternativas e se voltam ao misticismo, ao mesmo tempo em que rechaçam as religiões dominantes, como o catolicismo e o protestantismo.
O relativismo ético coloca a dificuldade das verdades absolutas, e isso é apontado por Max Weber em “Ensaios sobre a teoria das ciências”.
[...] em Max Weber, subsiste uma diferença fundamental entre a ordem da ciência e a ordem dos valores. A essência da primeira é a submissão da consciência aos fatos e às provas, a essência da segunda é a livre escolha e a livre afirmação. “Ninguém pode, por meio de uma demonstração, ser levado a reconhecer um valor ao qual não adira”.
Essas falas são usadas para o bem da desconstrução sexual, mas não tem o mesmo peso para a manutenção da moralidade de um povo que tem opinião contrária e que luta para manter sua cultura e sua religião como premissas de vida. Essa postura é ferozmente criticada pelos pensadores, se tornando paradoxal e uma imposição ao mesmo tempo, já que não há respeito ao querer do outro e sim uma normativa de obrigatoriedade à chamada liberdade sexual, diga-se de passagem, contestada pela maioria dos cidadãos.
Desde Platão, chegando a Comte, houve o incentivo para que os indivíduos cultivassem o que havia de melhor em si, tomando como base os moldes pré-idealizados que cercava os interesses comuns.
Muitos sociólogos usam o seguinte pensamento se referindo ao poder da igreja, seja ela qual for, como forma de crítica: “A imperfeição do ‘eu’ necessitava de um autocontrole, não obstante, quem era contrário às leis era desprezado, humilhado exilado e, muitas vezes, morto”.
Essa época citada no parágrafo acima faz parte de uma época não mais vivida pela nossa sociedade, mas ainda propagada como se fosse realidade. O que antes era uma verdade, hoje é uma mentira imposta por grupos ativistas em nome de dos direitos humanos.
Na contracultura apareceram filósofos como Nietzsche, que denunciavam a antropometria de escravização humana, lutando pelo direito à liberdade. Dizia ser o “eu” perfeito, precisando apenas se impor, e aqui não haveria, nem seria possível, uma transformação em outro “eu”, diferente ou mais qualitativo. Filósofos e socialistas no decorrer da história, ao mesmo tempo em que lutavam por direitos que todos usufruímos hoje, por trás, escondiam a verdadeira intenção de difamar e descontruir a igreja, sem se importar em fazer a coisa certa; sem preocupação em reformar o que era agressão à vida humana (direitos universais), respeitando sua espiritualidade (relativismo religioso), o que realmente seria uma democracia e igualdade de direitos.
A consciência que trago aqui é um despertar para o entendimento de que; ao mesmo tempo em que quebramos regras, como um direito, ficamos reféns dessa quebra, gerando sempre uma crise. Ou seja, todo ciclo é uma crise existencial vivenciada pela humanidade, pois os que lutam pela liberdade estão contaminados pelas suas próprias ideias de liberdade, que não representam os ideais da maioria. Os que se julgam libertadores de direitos estão condenando a humanidade a uma busca existencial por felicidade na liberdade, busca essa que pode nunca ter fim.
Será que essas regras deveriam ser quebradas? Ou será que, ao quebrá-las, criamos uma crise que nada contribuiu para o bem da humanidade? Ao quebrar um paradigma cedemos aos desejos de um grupo de intelectuais, por achismos e ideologias tão nocivos quanto o proselitismo religioso que estes mesmos intelectuais condenam, pois se tornam igualmente proselitistas. Ou seja, será que nesse desespero de quebrar paradigmas a humanidade não está em sofrimento ainda maior? Qual o preço dessa liberdade exacerbada, imposta socialmente? A humanidade, além dos intelectuais, consegue pagar?
Lutamos por direitos de quem? São os ditos intelectuais que sempre ditam regras ou tentam eliminá-las. Por exemplo, que disse que a contracultura é aceita pela maioria, e quem deu o direito de desfazerem os heróis das histórias infantis? Quem disse que crianças não gostam de histórias de príncipes? Quem disse que elas não se identificam com esses personagens e que isso não é bom para a imaginação e para as fantasias infantis?
A minha preocupação com a quebra de paradigmas é que tudo depende do olhar de quem vê, e quando quebramos algo impomos a nossa forma de pensar e isso é tão danoso quanto. Numa sociedade em que lutamos por direitos, estamos nos esquecemos de que temos deveres que devem ser estimulados para o bem da humanidade.
Outro lado da história é que quando critico uma forma, estou sempre impondo a minha; e os intelectuais, bem como os detentores dos poderes políticos, financeiros e de mídia, são uma minoria que impõem seus pensamentos à maioria. E no caso dos políticos, estes impõem seus pensamentos a uma maioria que os elegeu com o objetivo de representar a vontade do povo.
Marisa Lobo
Aluna da Pós Graduação no Curso de : Filosofia de Direitos Humanos
Marisa Lobo
Aluna da Pós Graduação no Curso de : Filosofia de Direitos Humanos
Referência:
LACLAU, Ernesto e MOUFFE, Chantal. Hegemony & Socialist Strategy. Towards a Radical Democratic Politics. Londres/New York: Verso, 1985. :
CANCLINI, Néstor García. Consumidores e cidadãos. Conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1997.
Culturas híbridas. Estrategias para entrar y salir de La modernidad. México D.F.: Grijalbo, 1990.
Imaginarios urbanos. Buenos Aires: EUDEBA, 1997.
La globalización imaginada. Buenos Aires: Paidós, 1999.
CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.
ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994
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