“O Egito sangra!” – Portas Abertas divulga relato sobre os confrontos egípcios
Colaborador da Missão Portas Abertas no Egito fala sobre a atual situação do país e revela o sentimento de cristãos e muçulmanos que sofrem com a morte de parentes e amigos. A sociedade em geral espera algo ainda pior para os acontecimentos que estão por vir. “Esses são os dias mais difíceis que já presenciei no meu país”, revela a fonte da Portas Abertas que não pode ser identificada por questões de segurança
“Encontrar
as palavras certas para esta manhã (15) é uma tarefa realmente difícil!
Os acontecimentos de ontem (14) refletiram em uma noite sem dormir, não
só para mim, como também para milhões de cristãos e muçulmanos egípcios
que amam este país e verdadeiramente buscam o bem-estar da nação."
A
quarta-feira foi um dia bastante triste, de muitas lágrimas, dores e
agonias para o Egito, que testemunhou o resultado de toda violência
praticada por policiais e manifestantes: de acordo com o relatório
oficial do Ministério da Saúde egípcio, 235 pessoas morreram e 2.001
ficaram feridas. Os números de mortes e lesões anunciados pela Irmandade
Muçulmana, agência de notícias Al-Jazeera e outros canais da mídia são
muito maiores.
Este
não é o momento para decidir quem está certo e quem está errado ou o
que deveria ou não ter sido feito em primeiro lugar. A questão agora não
é julgar se os manifestantes da Irmandade Muçulmana que foram forçados a
deixar a região de Rabaa-el Adawia e a Praça Nahda (onde estavam
acampados e bloqueando as ruas nos últimos 45 dias) eram manifestantes
pacíficos que tinham um caso político legítimo de defesa ou não.
Eu
ouso dizer que também não é o momento de chorar por dezenas de igrejas,
edifícios cristãos, escolas, livrarias bíblicas, lojas e casas de
cristãos que nunca antes foram alvos tão visados de saques, ataques e
destruição como ocorreu ontem em Minya, Assiut, Sohag e várias outras
cidades. Tudo isso não pode ser comparado à perda de tantos amigos e
parentes e às dores das feridas, do medo e da ansiedade que encheram os
corações de todos. Os edifícios podem, eventualmente, ser reconstruídos,
mas e quanto às pessoas que morreram?! Nunca poderemos recuperá-las.
Semana
passada, um caso específico abalou a comunidade cristã no Egito: uma
menina de 10 anos de idade, Jessica Boulos, foi assassinada a caminho de
casa, na volta de sua classe de estudos da Bíblia, sediada em uma das
Igrejas Evangélicas do Cairo.
Essa
semana, em um anúncio feito pelo presidente interino Adly Mansour, foi
declarado estado de emergência no país por, pelo menos, um mês. Quatorze
províncias (incluindo Cairo, a capital) já estão sob toque de recolher
das 19h às 6h do dia seguinte, devido aos inúmeros ataques de radicais a
edifícios de serviços públicos e propriedades privadas.
Vemos
e ouvimos manifestantes em canais da TV ameaçando queimar o Egito por
completo, para formar o que é chamado de "exército livre do Egito". O
objetivo deles é lutar contra o exército oficial, para acelerar a luta
com os jihadistas no Sinai. Afirmam que os egípcios não poderão dormir
até o ex-presidente Mohamed Mursi voltar ao poder (ele foi deposto em 3
de julho, após uma série de protestos).
Esses
são os dias mais difíceis que já presenciei no meu país. O Egito
pacífico está agora embebido em violência, ódio e desejo de vingança.
Meu coração e os corações de milhões de cristãos e muçulmanos egípcios
sangra ao ver o Egito se transformar em um país estranho, diferente do
lugar que conhecemos como nosso lar.”
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