LUCIANO AYAN
Richard Carrier escreveu um artigo (publicado no livro “The End of Christianity”, de John Loftus, outro picareta neo-ateu – ver o link para ao primeiro dos 3 posts do blog Rebeldia Metafica, que trazem o artigo traduzido) em que provaria que a moral cristã “fracassaria”. Segundo ele, o artigo sofreu peer review de outros humanistas como John Shook e Erik Wielenberg, ou seja, seria o mesmo que chamar flamenguistas para julgarem uma ação contra o Flamengo no Tribunal de Justiça Desportiva. Que Carrier tenha sido ingênuo ao divulgar os nomes de seus revisores, isso não me surpreende. O que seu fã fanático do Brasil, Dalila, provavelmente não esperava é que eu fosse investigar se os “revisores” tinham vested interest ou não. É, eu sei, é difícil para um fraudador entrar em campo quando há alguém pronto a investigar fraudes intelectuais. Fica claro que o “peer review” ocorrido vale menos que um peido.
Richard Carrier, com seu humanismo patológico e doentio, tenta provar que seus inimigos naturais, os cristãos, falham em estabelecer um padrão de moralidade. Conforme mostrarei aqui, ele fracassa em todos os sentidos (agora explica-se por que a “revisão” foi feita por seus amigos humanistas), embora ainda mantenha a ilusão de estar escrevendo algo que preste, ilusão esta mantida por uma série de auto-elogios e falsas proclamações de vitória, em perfeito estilo erístico. Tudo isso torna, é claro, seu esmagamento ainda mais engraçado.
A picaretagem na tentativa de usar a ciência “para validar valores morais”
Segundo Carrier, “somente fatos empiricamente confirmáveis podem constituir uma razão válida para sermos morais”, seguindo com a afirmação “é a “ciência que tem confirmado extensivamente ser o modo mais confiável de se fazer e verificar tais descobertas”, ressaltando ainda com a expressão que atende puramente ao efeito psicológico: “se não o único modo em alguns casos”). Eu gostaria de falar que essas trucagens de Carrier representam apenas o ato de embaralhar e tornar a dar em cima do discurso previsível já feito por Bertrand Russell em seu “Ensaios Céticos” (que será trucidado em breve aqui neste blog, pois essa é a fonte de onde beberam muitos humanistas recentes). O problema é que Carrier nem chega a embaralhar.
Para ele, “a religião é ou irrelevante ou na verdade nociva para o progresso moral da sociedade ao motivar as pessoas a adotar falsas moralidades ou ao impedir que elas descubram as verdadeiras razões para serem morais”, concluindo que “o Cristianismo é ou irrelevante ou um obstáculo para uma crença moral genuína”. Como ficará claro, a única coisa que Carrier poderia afirmar racionalmente é que o Cristianismo pode ser contestado em relação ao monopólio da moral, mas não conseguirá provar sua irrelevância.
Outro padrão reconhecível em toda argumentação de Carrier se baseia em tentar ampliar o mesmo truque de Sam Harris, em que este diz que a ciência “deve nos orientar nos padrões morais”. Para isso, Carrier tenta provar que a proposição de que não se “não se pode obter um ‘deve’ a partir de um ‘é’”, segundo a qual a ciência não é capaz de nos ditar valores morais, é falsa. Para se justificar, Carrier recorre ao ridículo, dizendo que nós “obtemos um ‘deve’ de um ‘é’ o tempo todo’. Exemplos dele abaixo, para que vocês possam dar boas risadas:
- “Se você deseja que seu carro funcione bem, então você deve trocar o óleo regularmente.””
- “Se deseja salvar a vida de um paciente em quem está realizando uma cirurgia, você deve esterilizar seus instrumentos”
- “Se você deseja construir uma ponte durável, você não deve empregar concreto de má qualidade”
Por causa de exemplos assim, tão absolutamente ineptos e inarticulados, ele afirma: “Com efeito, a ciência tem confirmado extensivamente ser o modo mais confiável de se fazer e verificar tais descobertas (se não o único modo em alguns casos).”
Alguns poderiam afirmar que eu poderia encerrar esta minha investigação aqui, mas devo me defender: não pude resistir à curiosidade (com a consequente decepção) de ver o que um humanista ainda poderia fazer com tal idéia. Segundo ele, ao demonstrar o que todos já sabiam (“a existência de conexão causal entre comportamento e resultado”), temos “um fato objetivo do mundo, que a ciência também pode descobrir e confirmar empiricamente”. Cereja do bolo: “onde quer que ambos (comportamento e resultado) sejam fatos empiricamente demonstrados, o imperativo que eles implicam é um fato empiricamente demonstrado”. Conclusão resultante dele: “a afirmação ‘você não pode obter um ‘deve’ de um ‘é’ é demonstravelmente falsa e já foi refutada vezes sem conta pela ciência”. Empolgado, ele ainda afirma: “nunca mais permitamos que ela seja pronunciada novamente.”.
O problema terrível é que ele descontextualizou propositalmente o contexto da expressão “você não pode obter um ‘deve’ de um ‘é’”, que sempre foi feita para a atribuição de juízo de valor moral às questões. É por isso que sabemos que se alguém quiser copular com uma criança, deverá fazê-lo à força. Mas isso não dá nenhuma resposta moral se o sujeito deve praticar pedofilia ou não. Assim como se alguém quiser colocar um inocente em uma câmara de gás, deverá tomar cuidado com todos os quesitos científicos para montar uma câmara de gás funcional. Mas isso ainda não diz qual a resposta moral para “devemos lançar um inocente em uma câmara de gás”. O argumento de Carrier fracassa pelo fato de que ele não tem noção alguma (ou finge não ter) do que significa moral, e compara decisões morais à coisas como “deve-se usar um rifle ou uma Magnum .44 para atirar em um carro militar?”. Nota-se que ele viu uma expressão, que é uma crítica poderosa (e não refutada) ao uso do juízo de valor moral à questões científicas, citou exemplos (que nada tem a ver com questões morais), e fingiu que a crítica falava de qualquer tipo de decisão humana. Resumo da ópera: quando humanista ouve falar de “moral”, nota-se que eles não sabem sequer o que fazer com as palavras para tratar do assunto.
Segundo Carrier, “proposições imperativas verdadeiras existem e são fatos do mundo tão objetivos quanto a estrutura do átomo ou a teoria microbiana das doenças. E esta proposição não é nenhuma novidade”, mas isso ainda não serve para nos definir moralmente sequer se devemos lançar uma bomba atômica em uma cidade ou não. Este tipo de discurso humanista ultrapassou o ponto de saturação, e como visto, não tem valor qualquer de evidência.
O humanismo psicopata contra os cristãos
Bruce Sheiman, um ateu 3.0 (movimento ateísta que surgiu para limpar a barra dos ateus, pois esta estava suja por causa dos humanistas) escreveu: “Mais do que qualquer outra instituição, a religião merece o nosso apreço e respeito, porque tem persistentemente encorajado as pessoas a se importarem profundamente – para si, para seus próximos, para a humanidade e para o mundo natural — e luta pelos mais altos ideais humanos capazes de se prever”. Eu até discordo de Sheiman, pois gostaria de dizer que o ateísmo (não-humanista) também é capaz de encorajar os mesmos atos morais que os cristãos, islâmicos e judeus pregam em seus códigos.
Ao contrário de Sheiman, o humanismo de Carrier o faz mentir contra cristãos e na maioria do tempo o discurso dele fica-se pela provocação a todo custo. Pela enésima vez no material neo-ateísta, nota-se a distorção típica ao dizer que “a teoria moral cristã mais popular diz que é melhor sermos bons ou então arderemos eternamente no mármore do inferno [..] mas se formos bons, viveremos eternamente no paraíso”. Ele até reconhece que os intelectuais cristãos se indignam com essa deturpação, mas diz que “esta é a visão mantida pelo grosso da cristandade”. Quer dizer, agora Carrier define o conhecimento da Teoria da Relatividade não pelo que os maiores físicos do mundo tem a dizer, mas sim com a opinião do frentista do posto de gasolina. É claro que o sujeito sem querer confessou que é intelectualmente desonesto.
Para atender a reputação de mitomania presente no humanismo, Carrier faz toda uma encenação fingindo que está argumentando seriamente (partindo da premissa falsa de que “no cristianismo fazer o bem é barganha para não ir para o inferno”). Tudo fica bizarro quando qualquer cristão ou ateu (intelectualmente honesto) poderá notar que se perguntarmos para um cristão “Quer dizer que eu posso tocar o terror, e depois me arrepender e vou pro céu?”, receberá uma resposta negativa. Ou seja, até para os cristãos populares, ficar usando teorias de “jogos de interesses” os ofende. É fato incontestável que Carrier trabalha com um espantalho.
Há pontos divertidos (que só valem a título de mapamento de truques, mas jamais como argumentação séria de fato) em momentos como:
- Se, por exemplo, Deus enviar para o inferno todos os que obedecem aos Dez Mandamentos, então a afirmação cristã “você deve obedecer aos Dez Mandamentos para não queimar no inferno” seria factualmente falsa, e portanto definitivamente não seria um enunciado moral verdadeiro.
- De modo que a moralidade cristã depende de suas afirmações de causa-e-efeito serem factualmente verdadeiras.
- Não há nenhuma evidência empírica de que qualquer daquelas afirmações seja verdadeira.
- Não há nada que nos indique que tipo de comportamento nos levará ao céu ou ao inferno.
- Não existem evidências empíricas sobre como Deus realmente se sente em relação a qualquer comportamento específico.
- Não existem evidências empíricas da superioridade da moralidade cristã sobre várias outras alternativas não-cristãs solidamente argumentadas em produzir uma sociedade vicejante de pessoas felizes.
- Não existem nem mesmo evidências empíricas de que converter as pessoas ao Cristianismo as torna moralmente melhores – estatisticamente, quanto mais cristãos há numa sociedade, mais os problemas sociais se agravam, e não há casos registrados de um declínio abrangente e substancial (tudo o mais sendo igual).
- Mesmo em termos de alcançar a felicidade e o bem estar pessoal, não existem evidências empíricas de que outros sistemas morais não realizem esse objetivo tão bem quanto ou até melhor do que a conversão ao Cristianismo.
- Portanto, a moralidade cristã é totalmente não comprovada ou não comprovável.
Tirando a afirmação 7 (em que ele inverte a relação de causa-e-efeito, ao especular em cima de dados afirmando coisas como se há mais pobreza em um lugar, é possível que estes pobres se apeguem à religião – no que ele conclui que “se há muita religião, foi por isso que surgiu a pobreza”), o restante só mostra a inversão de planos típica da distorção inicial que ele próprio criou.
Vamos a exemplos dos problemas que ele criou para si próprio. Observemos a afirmação de que “um pai deve sacrificar a própria vida para salvar um filho”, ou então “alguém deve sacrificar a própria vida por causa de seus ideais”. No item 8, nenhuma dessas duas afirmações passa no teste, e portanto não seria “uma boa forma de avaliar se é moral ou não”. Mas quem disse que “moralidade” é para prover bem estar pessoal do praticante dessa moral? Mais uma evidência de que Carrier não tem a mínima noção do que fala quando trata de moral.
É por isso que ele diz que “podemos ficar o dia inteiro fabricando moralidades”. É claro que sim, mas só se for a moralidade humanista, que coloca decisões como “devemos matar um inocente em uma câmara de gás?” no mesmo nível que “devo trocar o óleo do carro?”.
Ele também chafurda ao dizer que “não existe nenhuma diferença entre um sistema moral cristão que não temos nenhum motivo para seguir, e qualquer sistema moral escolhido ao acaso”, mas se esquece que nos cânones centrais, os valores morais (e não costumes e dogmas específicos) são basicamente os mesmos para o cristianismo, judaísmo e islamismo. Como ele sabe que está mentindo, diz o seguinte: “não temos mais razões para obedecer a uma moralidade cristã não-motivante do que temos para obedecer à moralidade pitagórica (em que comer feijões é uma imoralidade grave) ou à moralidade judaica ortodoxa (em que atender a um telefonema no sábado é uma imoralidade grave)”, em que propositalmente confunde costumes como “não comer carne na semana santa” (que no máximo denotam uma atitude de respeito, e nada mais), com “valor moral”.
Argumentos risíveis, fraudes cabais, peripécias retóricas delirantes e truques de encenação. Até agora foi a isso que se resumiu o discurso de Carrier, talvez por este motivo, seus dois funcionais humanistas ingênuos aqui Brasil o sigam com tanto fervor. Como nenhuma das crenças humanistas enraízam-se na realidade (como sempre demonstro, o humanismo parte de premissas falsas não só a respeito das religiões tradicionais que tanto odeiam, como especialmente do que o ser humano de fato é), precisam fantasiar a respeito daqueles de quem eles não gostam.
O fracasso da moralidade humanista
Mesmo que alguns cristãos ainda fizessem algo “somente por interesse de não ir para o inferno”, isso ainda não os comprovaria como “menos morais”. Ademais, moral é medida pelo comportamento, e não pela intenção que originou este comportamento. Curiosamente, Carrier apela ao empírico somente quando o convém. Se formos apelar ao empírico (e este é o critério que ele sugere para o embate), então ele não pode falar absolutamente nada a respeito das motivações que alguém tem para ser bom ou não. Por isso, toda a argumentação dele dizendo que “se alguém faz o bem, por medo de ir para o inferno, então não é moral” (truque tão manjado que é impossível levá-lo a sério) não serve nem como comédia involuntária, algo que só serviria para quem engole argumentos improváveis ou está executando agenda. Ademais, poderíamos catalogar o truque de “alguém que faz o bem por medo de ir para o inferno, não é verdadeiro moral” como uma variação da falácia “nenhum escocês de verdade”.
Por outro lado, se não conseguimos mostrar as moralidades cristã, judaica, islâmica e ateísta (não-humanista) como fracassadas, conseguimos mostrar que a imoralidade dá o tom no discurso humanista, motivo pelo qual podemos catalogar Carrier e seus discípulos como adeptos de uma doutrina para psicopatas, mais ainda que o marxismo.
Segundo Carrier, como sói ocorre nestes casos, o problema na moral do cristianismo ocorre “porque as pessoas não estão aprendendo as verdadeiras razões pelas quais deveriam ser morais, mas em vez disso elas acomodam-se às razões erradas para serem morais”, e como ele já disse, as razões corretas seriam “dadas pela ciência”, o que, como já demonstrei, não passa de uma fraude repetida à exaustão, um verdadeiro mingau sem sentido. Carrier afirma que uma prova de que “cristianismo é imoral” estaria no nazismo, mas já comprovei aqui que as culpas do nazismo não vão nem para o cristianismo nem para o ateísmo não-humanista, mas sim para o humanismo.
Devo reconhecer que o ateísmo tradicional (não-humanista), por sua vez, não tem o que fazer para estabelecer uma moral, pois não somos especializados nesse tipo de teorização, mas podemos seguir “a onda” e aproveitar uma cultura cristã, que ajudou a solidificar os valores morais, assim como seguirmos nosso DNA (como já afirmei aqui). Mas não podemos deixar de notar que os humanistas não tem o direito de serem catalogados no mesmo grupo que os ateus não-humanistas, pois se nós não podemos ser acusados de imorais, pode-se de forma incontestável demonstrar que os humanistas o são. É por isso que quando Carrier diz que existe um pesadelo assombrando a consciência dos cristãos, que seria o “apoio cristão ao sistema escravagista americano por mais de duzentos anos”, tem seríssimos problemas para explicar por que um cristão, Abraham Lincoln, lutou para libertar os escravos. Ele também tem problemas para explicar por que a família de Richard Dawkins tinha escravos. Exemplos como estes, quando Carrier tenta jogar culpas que ele e seus amigos possuem para cima dos outros, mostram que o humanismo é uma doutrina baseada na falsificação ideológica. Seus líderes são treinados em um discurso a la Saul Alinsky, que define o uso da mentira como tática padrão, sempre através de discursos rechados com ameaças vazias de que “os cristãos vão implantar uma teocracia” (quando na verdade nem teorizam isso).
Enfim, através da reconstrução, podemos notar que estamos diante de um discurso que atrofia o amadurecimento intelectual e moral de seus adeptos, assegurando que os funcionais humanistas sempre permaneçam emocionalmente infantis sem jamais alcançar o desenvolvimento cognitivo moral de verdadeiros adultos. Vários psicólogos demonstram que a mitomania é um comportamento doentio. Não se pode construir uma moralidade em um sistema sadio onde os grupos lutem para ganhar seu espaço somente através de contar mentiras (e se orgulharem publicamente de publicá-las, como fazem todos os autores humanistas). Como a mentira é sedutora, o humanismo ingênuo (são os funcionais, ou seja, os que não estão obtendo poder pessoal por causa do uso do discurso humanista) é um veículo perfeito para manipular massas de pessoas rumo a qualquer fim perverso para o qual um propósito humanista possa ser concebido.
Os genocídios da Revolução Francesa, do Cambodja, da União Soviética, da China e da Alemanha Nazista são uma demonstração de que o humanismo (que forneceu o discurso padrão para todas essas implementações) fracassa como uma base para os valores morais, tanto em teoria como na prática. É por isso que quando Carrier diz que “a verdadeira moralidade deve ser fundamentada em fatos empiricamente verificáveis”, garantindo que “a ciência por si só fornece o mais confiável método para determinar fatos empiricamente verificáveis”, ele sabe que não fala de moral, mas do uso de fatos conforme sua conveniência. Todos os sistemas genocidas aqui citados usaram a ciência sempre que precisaram (para saber como funciona uma câmara de gás, para estipular os gulags, ou mesmo determinar um ponto ideal de corte para a guilhotina). Se humanistas acham que quando discutimos fatos científicos, estamos discutindo valores morais, temos a plena noção de onde surge a mentalidade genocida. Tal culpa humanista, no entanto, não deve ser lançada aos ateus que fugiram das garras do humanismo, obviamente.
O humanismo serve, sim, como um caso de sucesso. Um caso de sucesso a favor da criação de uma doutrina para psicopatas, que estipula novos padrões de imoralidade, ao usar de mentiras como sua forma padrão de atuação, e partir do princípio de que seus representantes são “anjos em Terra”.
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