JULIO SEVERO
25 de outubro de 2012
Eguinaldo Hélio de Souza
Antes que algum marxista-socialista-comunista reclame que esta exposição está incompleta, gostaria de lembrar que se trata de um artigo, não de um livro ou mesmo um ensaio. Logo, não poderá tratar de todos os pontos minuciosamente e sim da visão geral.
A grande mentira a que me refiro é a mentira histórica que coloca no ringue o capitalismo contra o socialismo, como se estivéssemos falando de coisas com a mesma natureza. Não são. Que você acharia de ver no tatame um lutador de judô sendo desafiado por um cabrito? A disputa entre um rinoceronte e uma abóbora? Seria muito estranho, pois a natureza diferente dos rivais não tornaria a disputa coerente.
Quando falamos de capitalismo, estamos falando de um sistema econômico. Iniciativa privada, acúmulo de capitais, propriedade privada dos meios de produção. O capitalismo tem haver somente em como os homens produzem. Se perguntássemos ao capitalismo algo sobre a natureza do homem, sua origem, seu destino, enfim, sobre as grandes questões filosóficas da humanidade ele diria para procurar uma religião ou sistema filosófico. O capitalismo nada sabe das “leis que regem a história” ou do estado futuro da humanidade. Ele é limitado em suas proposições.
Já as ideias de Marx vão muito além da economia. Claro que essas ideias assumiram diversas correntes e formas, mas desde o seu princípio o marxismo-socialismo-comunismo proclamou seu caráter messiânico. Viera para redimir a humanidade e livrá-la dos inimigos que impediam sua felicidade. Em seu seio se abriga o ateísmo, o evolucionismo, a dialética, o materialismo histórico. Não era uma resposta para a economia, era uma resposta aos enigmas do universo e do homem. Mais do que um sistema econômico, nasceu como uma cosmovisão. Proclamou seu inimigo a burguesia com todos os seus valores e entre eles o cristianismo.
Exagero? Veja o que Marx escreveu com respeito ao comunismo:
“O comunismo é a abolição positiva da propriedade privada e por conseguinte da auto-alienação humana e, portanto, a reapropriação real da essência humana pelo e para o homem... É a solução genuína do antagonismo entre homem e natureza e entre homem e homem. Ele é a solução verdadeira da luta entre existência e essência, entre objetivação e auto-afirmação, entre liberdade e necessidade, entre indivíduo e espécie. É a solução do enigma da história e sabe que há de ser esta solução” (Karl Marx, Vida e Pensamento, David MacLellan, Vozes, p. 133).
Seu socialismo “científico” sem dúvida era mais utópico do que os socialismos utópicos que ele combateu.
Foi e é um grande engano histórico e mesmo filosófico contrapor capitalismo e socialismo como se referindo à coisas com natureza semelhante. Capitalismo é economia, socialismo é ideologia, é messianismo, é religião. Como dizia Sun Tzu, não conhecer o inimigo em uma guerra é uma deficiência.
Entretanto a desproporção não termina por aí. Há outra disparidade nesse conflito.
O capitalismo é uma realidade histórica. O socialismo apenas uma realidade teórica. Sei que muitos dirão que ele existiu em boa parte do mundo e que ainda subsiste em Cuba e Coréia do Norte. Se você, porém, conversar com seus defensores eles dirão que o que existiu até hoje foi um “capitalismo de Estado”. O socialismo real, puro, como tem que ser e como foi idealizado por Marx ainda não chegou, apenas está a caminho e eles estão lutando por isso.
Em outras palavras, o capitalismo deve ser destruído e substituído por e em nome de um sistema idealizado e não por um sistema concreto. O presente real deve morrer pelas armas de um futuro hipotético. Esse futuro, depois de quase dois séculos de mortes, prisões e torturas em seu nome, ainda não chegou. Apesar de dominar o pensamento acadêmico ele ainda não teve uma existência concreta que alguém pudesse dizer: “Olha aqui o socialismo funcionando”. Mesmo assim temos que acabar com qualquer coisa ligada ao capitalismo, temos de sacrificá-lo no altar de uma teoria que nunca conseguiu provar que funciona. Perigoso.
“O socialismo acabou”. É o que muitos vão dizer. Ele teria sido sepultado sob os escombros do Muro de Berlim. Então por que tantos “Partidos Socialistas”? Então porque os estudantes são bombardeados por marxismo e tantos professores interpretam a história e o mundo segundo a cosmovisão marxista? Por que as razões reais do fracasso socialista não são estudas a fundo e apresentadas à nova geração? Por que o Foro da São Paulo, o “socialismo ou morte” de Chaves (nosso vizinho) e o gramscismo nas escolas? Uma ideologia não morre tão fácil assim, muito menos uma ideologia tão destruidora como essa. Ela fica impregnada na humanidade e embora possa metamorfosear-se sempre que necessário, não se torna por isso mais fraca ou menos perigosa.
Para terminar, temos que pensar no que disse o próprio Marx:
“Por causa desta divergência devemos levar as obras teóricas o mais possível a sério. Estamos firmemente convencidos de que não é o esforço prático, mas antes a explicação teórica das ideias comunistas que é o perigo real. Tentativas práticas perigosas, mesmo aquelas em larga escala, podem ser respondidas com canhão. Mas as ideias conseguidas por nossa inteligência, incorporadas ao nosso modo de ver, e forjadas em nossa consciência, são correntes que nós mesmos não podemos romper sem partir nossos corações; elas são demônios que não podemos vencer sem nos submetermos a eles”.(David MacLellan, op. Cit.) [Negrito e grifo nossos]
Fonte: www.juliosevero.com
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