10/10/2012
Por Jorge Serrão -
O ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
tem tudo para enfrentar problemas sérios no desdobramento judicial do
Mensalão.
Confirmada a condenação de seu ex-chefe da Casa Civil por
corrupção ativa, será impossível sustentar a tese de que José Dirceu agia
sozinho na operação de “compra” de partidos base aliada, sem que seu
superior hierárquico “soubesse de nada”. Sob a presidência de Joaquim
Barbosa no STF, a partir de 18 de novembro, o mito Lula deverá enfrentar o
rigor da Justiça – com o agravante de que agora não tem mais foro
privilegiado para se blindar.
Os votos de alguns ministros do STF,
condenando Dirceu ontem, já deram uma pista de um nome que será investigado
no desdobramento da Ação Penal 470.
Trata-se de Marcelo Sereno, amigo
pessoal de Dirceu, de quem foi assessor, e ex-secretário de Comunicação do
PT. Sereno seria o elemento direto de ligação entre a Casa Civil e o
gabinete de Lula da Silva. Sereno se torna alvo por suas ligações com
Waldomiro Diniz e Carlinhos Cachoeira – cuja CPI o PT faz de tudo para que
acabe em pizza, antes que macule a imagem de alguém poderoso do partido.
Embora Lula tenha pregado ontem a candidatos
petistas que disputam o segundo turno eleitoral que “é preciso manter a
cabeça erguida”, após a condenação de Dirceu, Lula sabe que é a sua própria
cabeça que ficará a prêmio daqui por diante.
O sinal de alerta foi ligado
com a reportagem de setembro da revista Veja, na qual o empresário
Marcos Valério, operador do esquema, apontou Lula como o chefe do mensalão.
Portador de gravações-dossiês para serem usadas conforme a conveniência,
Valério também revelou que o PT usou R$ 350 milhões no esquema.
Assim que assumir a presidência do STF, o
herói nacional, Joaquim Barbosa, deverá retirar o estranho segredo de
Justiça sobre o Processo Investigatório 2.474.
Os 77 volumes em sigilo
apuram as supostas irregularidades no convênio entre o Banco BMG e o
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com a participação da Empresa
de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev), para a
“operacionalização de crédito consignado a beneficiários e pensionistas”. O
caso dormita “blindado”, desde 2007, no Supremo.
Foi com as
mesmas informações desse caso (estranhamente em segredo) que o Ministério
Público Federal em Brasília entrou com uma ação na Justiça Federal, por
improbidade administrativa, contra o ex-presidente Lula e seu então
ministro da previdência Social, Amir Lando.
Além de suspeitos de
favorecimento ao banco BMG (envolvido com as operações de Marcos Valério),
o MPF denunciou Lula e Lando por prática de “autopromoção”. Ambos assinaram
as cartas a aposentados e pensionistas oferecendo crédito consignado via
BMG.
Investindo
nesse mesmo Processo Investigatório 2.474, Joaquim Barbosa já autorizou a
abertura de um inquérito para investigar repasses feitos pelo esquema com o
BMG para pessoas ligadas ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel,
e a outros políticos petistas.
O novo inquérito, que tramita na Justiça
Federal em Belo Horizonte, investigará repasses que beneficiaram pessoas
ligadas aos deputados Benedita da Silva (PT-RJ) e Vicentinho (PT-SP), além
de dezenas de outras pessoas e empresas que receberam dinheiro do mensalão.
Tal esquema só foi descoberto pela Polícia Federal quando a ação principal
do Mensalão já estava em andamento no STF.
A
Procuradoria Geral da República já denunciou o deputado Carlos Bezerra
(PMDB-MT). Ele é acusado de favorecer as operações de crédito consignado do
Banco BMG, quando presidiu o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O
BMG é acusado de ter simulado empréstimos de fachada para o PT e as
agências de publicidade do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza
para abastecer o esquema ilícito de pagamento de propina.
Gurgel também
pediu a abertura de um inquérito independente contra o deputado José Mentor
(PT-SP) “para apurar os repasses efetuados em seu benefício pelo grupo de
empresas de Marcos Valério”.
Outra frente
de negócios que pode bater em Lula. O MPF já mandou para a Justiça Federal
em São Paulo a apuração sobre o envolvimento da Brasil Telecom (atual Oi),
Telemig Celular e Amazônia Celular com Marcos Valério.
A Justiça Federal em
Brasília apura sobre irregularidades nas gestões realizadas pelos bancos
Econômico e Mercantil de Pernambuco perante o Banco Central. O MPF
denunciou que tal gestão também teve o intermédio de Valério.
Incluindo os
réus agora em julgamento no STF, o mensalão tem 118 réus investigados em
outras instâncias do Judiciário.
Quem conduz
as investigações da nova frente do Mensalão é a mulher de Roberto Gurgel,
Procurador-Geral da República. A subprocuradora Cláudia Sampaio Marques
investiga o escândalo desde antes da gestão do marido.
O novo inquérito tem
77 volumes e mais de 13 mil páginas. O novo relatório da Polícia Federal,
com novidades sobre o caso, com 332 páginas, só chegou ao MPF em fevereiro
do ano passado.
Como o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, já
avisou que pretende destravar outras frentes de investigação sobre o
escândalo, logo após o veredicto no STF, o Mensalão e seus desdobramentos
assombrarão Lula e a petralhada agora e muito além da atual campanha
municipal.
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