MÍDIA A MAIS
04 | 10 | 2012
Hora de ciência econômica
Por: Guy Sorman
O que os europeus enfrentam hoje dificilmente foi uma alucinação política coletiva: a crença de que os governos são o motor do crescimento econômico. Essa crença – porque isso era uma crença e não uma ciência – foi espalhada por charlatães travestidos de acadêmicos e líderes políticos que tiraram proveito disso. Para seguir essa “alquimia”, seria suficiente pressionar as alavancas certas, os manetes monetários, as válvulas fiscais, o volante industrial, para que, em seguida, por milagre, aumentassem as riquezas e o emprego.
A opinião pública acreditou, uma vez que é tentador para o espírito imaginar que as causas simples – a ação do Estado nesse caso – conduzem aos benefícios coletivos, à riqueza e à redistribuição de renda. Assim, em nome da prosperidade e da justiça social, o Estado inflou como um sapo, aumentou a dimensão das burocracias públicas, suas intervenções tornaram-se ainda mais intensas e, como consequência inevitável, a dívida pública: uma dívida suportada agora não pelos culpados, mas pelos crentes, simplórios e vítimas da alquimia econômica.
O único benefício desse colapso não intencional da ilusão coletiva, ainda denunciado por algumas vozes solitárias no deserto (embora seja inútil ter razão contra a multidão) pode ser a substituição da alquimia econômica por uma ciência econômica. O que diz a ciência? Experiência – toda ciência é experimental –, o que permite doravante firmar o crescimento sob princípios pouco contestáveis: a inovação, o empreendedor e um Estado de qualidade. Essa verdade é tão trivial que pouco se lembra que só a inovação é a base de toda a prosperidade. Da roda ao surgimento dos organismos geneticamente modificados, é aos pesquisadores a quem devemos a redução do tempo de trabalho, à qualidade de vida e sua maior longevidade.
A inovação só não é suficiente, senão a China teria superado a Europa desde a Idade Média: é necessário também o empreendedorismo, esse espírito engenhoso que transforma a ciência em produção e bens de consumo a um preço acessível para maior número de pessoas. O empreendedor por sua vez aumenta o risco de essa transmutação, não de chumbo em ouro, mas de ciência em objeto padronizado, se nisso houver vantagem. Essa vantagem é garantida por um Estado de qualidade. Não há desenvolvimento sem instituições estáveis, confiáveis e previsíveis: um Estado de direito que somente garanta um Estado de qualidade – sem um Estado de quantidade.
Em decorrência da crise, essa teoria muito antiga do empreendedorismo (formulada há dois séculos por Adam Smith e Jean-Baptiste Say) reaparece, com sólidas razões para estar confiante no futuro do nosso continente europeu. Na verdade, são apenas três nações ou grupos de nações que dominam o mundo da inovação: os Estados Unidos, o Japão e a União Europeia. São registradas a cada ano 250 mil patentes, um valor jurídico universal, seguido muito atrás pela Coreia do Sul, o único país verdadeiramente emergente a surgir nessa área. Todos os outros ainda se encontram na fase de transição da economia agrícola versus a economia industrial ou na economia primitiva de terceirização.
Essas patentes são, hoje, como uma fotografia da economia de amanhã: toda patente não gera necessariamente um produto e um serviço na prática, mas estatisticamente sim. O empreendedorismo é capaz dessa metamorfose? Nos Estados Unidos, no Japão e na Europa, as patentes são abundantes, em especial nas gerações educadas que sonham principalmente com negócios empresariais e a globalização. Um Estado de qualidade? Ele deve fazer com que os governos intoxicados pela alquimia econômica se convertam à ciência econômica. Eles estão se empenhando, principalmente na Espanha. O que falta é a educação: as pessoas que seguem cegamente os charlatães esperam ter direito a uma explicação adicional. Essa pedagogia ainda não está à altura do desencanto.
Tradução: Maria Júlia Ferraz
Disponível no blog do autor
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