MÍDIA A MAIS
18 | 05 | 2012Por: João Luiz Mauad
Com a aproximação da Conferência Rio+20, as declarações apocalípticas dão o tom do debate. O ministro Gilberto Carvalho, por exemplo, declarou que “o mundo se acabaria rapidamente se fosse universalizado o padrão de consumo das elites”. No mesmo diapasão, o neoconservaciocista Delfim Neto – ninguém menos que um dos idealizadores da escandalosa Transamazônica - foi categórico, em entrevista ao Globo: “Conflitos serão inevitáveis. Não há como o planeta sustentar nove bilhões de pessoas com renda de US$ 20 mil cada”.
Essa gente não tem a menor imaginação. No início do Século XIX, quando a Terra era habitada por apenas 1 bilhão de pessoas, Thomas Malthus previu que a população mundial cresceria em proporções geométricas, enquanto a produção de alimentos e outros recursos cresceria em progressão aritmética. “A morte prematura visitará a humanidade em breve, que sucumbirá em face da escassez de alimentos, das epidemias, das pestes e de outras pragas”, profetizou.
Em 1968, quando a população mundial era de 3,5 bilhões, o ecologista Paul Ehrlich, um colecionador de prêmios e comendas científicas, escreveu um livro (The Population Bomb) onde previu que, como resultado da superpopulação, centenas de milhões de pessoas morreriam de fome nas décadas seguintes. Num discurso de 1971, ele previu que "até o ano de 2000, o Reino Unido será simplesmente um pequeno grupo de ilhas empobrecidas, habitadas por cerca de 70 milhões de famintos."
De lá para cá, a população mundial dobrou e, embora ainda haja problemas sociais graves a resolver, principalmente ligados à pobreza, as previsões alarmistas de Malthus e Ehrlich jamais se concretizaram.
Pelo contrário, graças às novas tecnologias e ao crescimento esponencial da produtividade, o percentual de subnutridos nos países em desenvolvimento, em relação ao total da população, vem apresentando uma firme tendência declinante há quatro décadas, tendo baixado de 33% em 1970 para 16% em 2004.
O chamado “movimento verde” nasceu da justa indignação de alguns com o desmatamento, a poluição do ar, dos rios e dos mares, além da preocupação com os riscos para a saúde humana provenientes da atividade industrial.
Com o tempo, entretanto, o movimento foi sendo dominado e transformado por ideólogos esquerdistas, preocupados não com a poluição ou com a nossa saúde, mas com a política e o poder. A partir desse ponto, a doutrinação, o proselitismo e a disseminação do pânico foram tão fortes que as teorias mais bizarras tornaram-se politicamente corretas.
A essência da ideologia verde está na crença de que a humanidade deve minimizar o seu impacto sobre a natureza, custe o que custar. Vide a gritaria contra a aprovação do novo Código Florestal, uma lei extremamente preservacionista e restritiva à atividade econômica, sem similar no mundo, mas que, mesmo assim, conseguiu desagradar os xiitas.
Mas os seus principais inimigos são mesmo os combustíveis fósseis, as hidrelétricas e termonucleares, que, não por acaso, ao todo significam quase 98% da produção de energia do planeta, e sem os quais o mundo para.
O que os adeptos desse radicalismo se recusam a enxergar é que nós, seres humanos, só sobrevivemos e prosperamos através da transformação da natureza, sem o quê não satisfazemos as nossas necessidades mínimas. Nosso bem estar está diretamente ligado à nossa capacidade de tornar o ambiente a nossa volta menos agressivo e mais hospitaleiro.
Pensem por um minuto no que seria de nós sem os modernos sistemas de esgotamento sanitário, a água encanada, as construções mais seguras, resistentes e protegidas das intempéries naturais, a comida fresca e farta, as vacinas e os remédios, os meios de transporte e comunicação rápidos e eficientes.
Graças a Deus, as gerações que nos precederam visaram o progresso. Elas tiveram orgulho de construir fábricas, abrir estradas, perfurar poços e escavar a terra a procura de novos recursos. Felizmente, não estavam contaminados pela ideologia verde.
O desenvolvimento econômico que eles nos legaram, longe de ser nocivo, é uma verdadeira dádiva, que nos forneceu as ferramentas e a tecnologia necessárias para tornar o nosso habitat mais saudável e acolhedor. É verdade que tudo isso resultou em alguma poluição e desmatamento. No entanto, mesmo esses indesejáveis efeitos negativos têm sido superadas com bastante êxito pelas nações mais avançadas.
É claro que a solução não está na restrição do consumo, mas no aumento da produtividade e no desenvolvimento tecnológico. Sem falar que os mais prejudicados, caso esse fanatismo ambientalista prevaleça, serão os mais pobres, caso sejam privados do uso de fontes de energia eficientes e baratas, e, consequentemente, da chance de poderem um dia usufruir do padrão de vida dos países ricos.
Publicado por O Globo em 11/05/2012
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