ÉPOCA
ECONOMIA - 20/09/2012 20h05
JOSÉ FUCS
O estudo sobre a nova classe média brasileira, divulgado nesta quinta-feira pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, deve ser visto com cautela. De acordo com a pesquisa, mais da metade da população do país, mais precisamente 53%, equivalentes a 104 milhões de pessoas, fariam parte hoje da tal classe média emergente. Só que essa “classe média” é composta por famílias com renda per capita entre R$ 291 e R$ 1019, de acordo com os novos critérios de classificação definidos pela SAE adotados pelo estudo. Com base nesses critérios, um casal sem filhos com renda mensal de R$ 582 – 93% do atual salário mínimo –, já seria considerado classe média no Brasil – o que, evidentemente, não faz o menor sentido.
Não por acaso, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) considera como classe C (o degrau inicial da classe média) quem tem renda uma mensal familiar maior, entre R$ 1.200 e R$ 4.500, algo muito mais próximo da realidade. Ainda assim, é bem menos do que se considera como classe média nos Estados Unidos. Lá, uma família de classe média tem uma renda entre US$ 30 mil (R$ 60 mil) a US$ 75 mil por ano (R$ 150 mil) ou US$ 2.500 (R$ 5 mil) a US$ 6,25 mil (R$ 12.500) por mês.
Do jeito que a coisa vai, logo, logo o governo vai dizer que quem mora num barraco na favela, mas tem televisão, geladeira e um colchão para dormir no chão também faz parte da classe média emergente. Isso pode parecer um absurdo metodológico, mas talvez seja uma ferramenta importante para iludir os desavisados (do Brasil e do exterior) e para engrossar os votos do partido do governo nas eleições.
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