Kenji Goto, o jornalista japonês decapitado pelo chamado Estado Islâmico, era cristão. E foi o seu desejo de dar voz aos últimos que o levou a trabalhar na Síria. No novo drama da loucura fundamentalista há um aspecto que alude à fé religiosa. Kenji Goto pertencia à pequeníssima comunidade cristã do Japão, que representa menos de 1% da população do país.
A reportagem é de Giorgio Bernardelli, publicada por Vatican Insider, 01-02-2015. A tradução é do Cepat.
Originário de Sendai, de 47 anos, Goto se converteu ao cristianismo em 1997, quando já era jornalista. Entrou para fazer parte da United Church of Christ of Japan, a maior confissão evangélica japonesa, que tem ao redor de 200.000 fiéis. Frequentava a comunidade de Den-en-chõfu, na periferia de Tóquio.
Sua fé cristã, unida a uma grande sensibilidade a respeito do tema da paz (muito difundida entre os cristãos japoneses), orientou inclusive sua atividade profissional. Criou uma sociedade de produção independente que se concentrava principalmente nas crianças vítimas da guerra. Em suas reportagens se ocupava dos meninos soldados de Serra Leoa, do conflito de Ruanda, da condição das meninas no Afeganistão. Viajou a Síria em outubro do ano passado, com a intenção de intermediar a libertação do outro refém japonês do Estado Islâmico, Harun Yukawa, que foi decapitado dias antes que ele.
“Antes de viajar a Síria – disse Atsuyoshi Fujiwara, pastor de Tóquio, à agência evangélica Christianity Today -, Kenjideixou uma vídeo-mensagem na qual se dizia consciente do fato de que sua intenção era muito arriscada e assumia completamente a responsabilidade por suas ações”. Também havia declarado a uma revista japonesa: “Vi coisas e lugares horríveis, e também arrisquei a vida, mas sei que de qualquer maneira Deus me salvará”.
A missão do jornalista na Síria causou perplexidades no Japão. Quando o chamado Estado Islâmico mostrou as imagens de Goto e Yukawa juntos, os pais de ambos pediram perdão publicamente pelo possível desgosto criado no Japão. A reação inicial no país, apontou Christianity Today, citando suas fontes locais cristãs, foi que ambos só haviam se metido em problemas e que não deveriam ter ido para onde foram. “Mas quando se soube que Goto era um cristão e que aquilo que o motivava era dar voz aos meninos vítimas das guerras - disse a agência -, isto permitiu que angariasse alguns pontos a favor. Entenderam que não era um aventureiro”.
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