Corações partidos – PT excedeu
limites de cotas de traição do povo.

O encantamento com as pessoas envolve um processo onde a premissa básica é representada pela correspondência das expectativas que uns nutrem em relação aos outros. Durante este processo, ocorre o fortalecimento das convicções e o aumento da fé naquela relação. É justamente quando se dá a entrega. A partir deste momento, a pessoa passa a defender o alvo de sua admiração e até mesmo a tolerar alguns defeitos. Nada mais justo, pois trata-se de admitir que ninguém é perfeito.

O problema surge quando a outra parte não consegue retribuir na mesma proporção o respeito e a dedicação de que são alvos. A situação piora quando, ciente do afeto do outro, abusa, humilha e até mesmo tripudia sobre este sentimento. Este desequilíbrio é um sintoma de que cedo ou tarde acontecerá o que as pessoas mais temem: a traição. Se os processos seletivos nas relações humanas são frágeis entre seres que se escolhem por uma série de afinidades, imagine a fragilidade das afeiçoes aos seres políticos?

O Partido dos Trabalhadores passou os últimos 35 anos seduzindo pessoas, prometendo atender aos seus anseios e acenando com ideais de justiça, honestidade e honra. Assumindo ares de seita, cuja santidade ainda não havia sido posta à prova, seus líderes messiânicos se fortaleceram através da condenação de seus pares.

Em centenas de vezes, se não milhares, Lula acusou políticos como José Sarney, Paulo Maluf, Fernando Collor, entre outros, de serem os vilões responsáveis por todas as mazelas do país. Ávidos por um líder verdadeiro, milhões de brasileiros se permitiram seduzir pelo canto da sereia e concordavam com tais sentenças. Os vilões do passado se transformaram nos principais aliados da noite para o dia. De mesmo modo, o PT que acusava o PMDB, PFL (hoje DEM) e demais partidos por representarem a política podre do país é o mesmo que sustenta e é sustentado por estes partidos.

Viver é enxergar a verdade, que por vezes dói muito. Mas optar por negar a realidade acaba sendo um gesto covarde que pode causar feridas mais profundas ainda.

Tais gestos, apesar de contrariarem os admiradores do partido, acabaram sendo perdoados em nome da governabilidade. Afinal, nenhum partido é perfeito. Entretanto, a má fé de Lula e dos demais integrantes do PT não se limitou a pregar o ódio para depois se aliar aos inimigos. Contrariando todas as convicções e promessas, o partido passou a atender os interesses daqueles que costumava chamar de exploradores do povo, como os bancos, as empreiteiras, os meios de comunicação e representantes das elites dominantes.

Antes de trair o povo com o golpe nos direitos trabalhistas, o PT já havia patrocinado o conluio dos chefes sindicais com os patrões, já havia adotado toda sorte de práticas que antes condenava e já havia aderido a todos os esquemas de corrupção em andamento no país ao longo dos últimos doze anos, tornando-se hoje um sinônimo de corrupção.

Se antes o partido aglutinava seguidores em virtude de seu estatuto e das ideologias que pregava, hoje, prostituiu sua militância através da remuneração com recursos obtidos em desvios de estatais e propinas pagas por empreiteiras.

Se antes o PT se apoiava na liderança de intelectuais renomados com seus discursos de mudança, hoje se mantém graças à figuras obscuras e pouco conhecidas do grande público, mas que vez por outra estampam as manchetes dos jornais sendo conduzidos por agentes da Polícia Federal. São os operadores dos esquemas fraudulentos que sugam recursos de estatais como a Petrobras, BNDES e Caixa econômica.

Se antes o PT oferecia ao povo a esperança por dias melhores, hoje o partido condenou os pobres à dependência de programas sociais, deixando-os completamente sem perspectivas para o futuro, já que não cumpriu seus compromissos com os requisitos básicos de cidadania ainda hoje ausentes nos bolsões de pobreza e periferias dos grandes centros. Os baixos investimentos em educação aumentaram em índices alarmantes a evasão escolar de crianças e jovens, removendo de suas vidas as mínimas chances de construir um futuro para si e seus familiares.

Na política, assim como nas relações afetivas, é comum que algumas pessoas traídas se sintam envergonhadas, para baixo, mas ainda com esperança e disposição de perdoar pessoa amada. Outras simplesmente se desiludem e perdem completamente a fé em outras relações. Porém existem aquelas que encaram a traição como uma lição de vida, mas não desistem de seu sonho de viver um grande amor. São pessoas dispostas, que sacodem a poeira e partem para outra.

@muylaerte