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sexta-feira, 14 de maio de 2010
Veja desta semana estampa a foto de um adolescente gay e tem como manchete “Gays: o começo do fim do preconceito”. A reportagem em questão retrata a homossexualidade como algo natural, afirma que o preconceito tem diminuído e que os jovens gays hoje são bem aceitos por seus colegas e pais. O texto gerou polêmica entre a militância gay ao pintar uma imagem cor de rosa do cotidiano dos homossexuais no país e afirmar que os jovens não estão mais preocupados em se aliar a uma causa ou em se identificar com a chamada comunidade homossexual.
A matéria é bastante positiva na medida em que escancara uma tendência inegável na juventude e na sociedade que é a maior aceitação do homossexual. Também aponta corretamente para um fenômeno cada vez mais comum que é a fluidez identitária. Para a infelicidade de dirigentes de ONGS gays voltadas para o público jovem, ser gay, hoje, de fato, não é mais a única e geralmente nem é a mais importante identidade de um adolescente, o qual, ao mesmo tempo, pode ser emo, cristão, esportista, vegetariano, etc. A reportagem, entretanto, parece usar os dados e declarações da forma como bem entende.
Diz a revista:
Na última parada gay de São Paulo, a maior do mundo, a esmagadora maioria dos participantes até 18 anos diz estar ali apenas para "se divertir e paquerar" (na faixa dos 30 o objetivo número 1 é "militar").Não sei de onde eles tiraram estes números, mas todo mundo que já foi a uma parada sabe que a maioria das pessoas que está ali não é gay. É gente que gosta de festa, de carnaval, de sem-vergonhice.
Outra frase:
Em 1993, uma aferição do Ibope cravou um número assustador: quase 60% dos brasileiros assumiam, sem rodeios, rejeitar os gays. Hoje, o mesmo porcentual declara achar a homossexualidade "natural", segundo um novo levantamento com 1 500 adolescentes de onze regiões metropolitanas, encabeçado pelo instituto TNS Research International.Como é praxe, a revista não poderia deixar de citar um “especialista” para comprovar sua tese:
À frente do levantamento, o psicólogo americano Ritch Savin-Williams, autor do livro The New Gay Teenager (O Novo Adolescente Gay), resumiu a VEJA: "O peso de sair do armário já não existe para os jovens gays do Ocidente: tornou-se natural".
Que o peso diminuiu, não há dúvidas; agora, dizer que as pessoas saem do armário como trocam de roupa é no mínimo questionável. Questionável, aliás, talvez seja a fidedignidade desta revista em reproduzir falas alheias, como comprova o seu último exemplar, em que encontramos, saída da boca de um célebre antropólogo, a frase “só é índio quem nasce num ambiente cultural original”.
Também desconheço esta pesquisa. Entretanto, uma investigação recente publicada no livro A Cabeça do Brasileiro, também amplamente divulgada pela Veja, mostra que as coisas não são bem assim: 90% dos brasileiros ainda é contra o homossexualismo masculino e 88% contra o homossexualismo feminino. Em termos regionais, 94% é contra gays, ao passo que no Sudeste este índice de rejeição cai para 84%. Há no livro também esses números por renda e escolaridade, indicando a relação entre uma coisa e outra. São números alarmantes que, embora estejam caindo, mostram que ainda há muita incompreensão sobre o assunto.
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