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Olavo de Carvalho na BBC é
destacado como “adepto da teoria de que ‘a entidade chamada Inquisição é uma
invenção ficcional de protestantes’”
Julio Severo
Em reportagem
recente intitulada “Olavo de Carvalho, o ‘parteiro’ da nova direita que diz
ter dado à luz flores e lacraias” de João Fellet, que se encontrou com Olavo de
Carvalho em Petersburg, EUA, a BBC o destacou como promotor de várias teorias,
inclusive a ideia de que a Inquisição foi uma “invenção.”
“Eu quis que uma direita existisse, o que não quer
dizer que eu pertença a ela. Fui o parteiro dela, mas o parteiro não nasce com
o bebê,” se gabou Olavo na reportagem, que o descreveu:
Nascido
em Campinas (SP) há 69 anos, professor de filosofia sem jamais ter concluído um
curso universitário e adepto da teoria de que “a entidade chamada Inquisição
é uma invenção ficcional de protestantes”, Carvalho acumula desafetos com a
mesma intensidade com que é defendido por seus admiradores.
Ao contrário de jornais brasileiros como Folha de
S. Paulo e Globo, que em entrevistas com Olavo nunca se importaram
com o tema da Inquisição, a BBC deu um enfoque especial para esse assunto,
sendo aparentemente o primeiro grande veículo de comunicação internacional a
dar importância à questão da Inquisição ao entrevistar o Olavo, que aos poucos
vai se consagrando como “filósofo da Inquisição,” por seu revisionismo que o
coloca em pé de igualdade com os revisionistas do Holocausto. Só para lembrar:
os judeus foram vítimas preferenciais tanto da Inquisição quanto do Holocausto.
O que mais a BBC disse sobre o filósofo da Inquisição?
Expulso
o PT do governo, Carvalho diz que a direita brasileira começa a se organizar
nas ruas. Perguntado a que se deve a transformação, responde em francês: “C’est
moi” (Sou eu).
O
filósofo afirma que “atualmente é obrigatório estar na direita,” mas que não
mantém “compromisso com nenhuma política em particular.”
As
opiniões de Carvalho sobre o impeachment agravaram um racha entre o escritor e
outras vozes influentes da direita com quem ele manteve boas relações no
passado, como o colunista da revista Veja Reinaldo Azevedo…
Em
artigo em que chama o filósofo de “mascate da paranoia” e de “Aiatolavo” (em
referência ao aiatolá, líder religioso dos muçulmanos xiitas no Irã), Azevedo
diz que Carvalho “se alimenta do insucesso dos que lutam contra a esquerda.”
Para
Carvalho, Azevedo e outros desafetos almejam ser representantes da direita e
têm ciúmes de seu pioneirismo.
Carvalho
também critica o Movimento Brasil Livre (MBL)…
O MBL
não respondeu ao pedido da BBC Brasil para comentar a fala do filósofo. O
Instituto Liberal e o Vem pra Rua, outras organizações influentes entre
conservadores, tampouco quiseram se pronunciar sobre Carvalho e sua obra.
Outro destaque que a BBC deu foi para Olavo como “pai
espiritual.” A BBC diz:
Para o
filósofo Pablo Ortellado, professor de políticas públicas da USP, o escritor é
uma espécie de “pai espiritual da nova direita” brasileira.
Mas ele
diz que Carvalho perdeu influência por ter “brigado com todo mundo.”
De fato, Olavo tem brigado com todo mundo. Se a defesa
da Inquisição o coloca em briga com evangélicos, o modo grosseiro e
desrespeitoso com que ele trata o Papa Francisco vem provocando briga com
católicos importantes. Um dia antes da reportagem da BBC, o portal católico
Paraclitus com mais de 2 milhões de seguidores condenou a olavolatria, parecendo iniciar uma tentativa de
quebrar a influência do “pai espiritual” sobre a vida de muitos católicos.
Católicos comuns estão desabafando no Facebook seu
descontentamento com o Olavo e que pararam de segui-lo, enquanto outros se queixam de que só
vieram a conhecê-lo por recomendação do Pe. Paulo Ricardo (ver na seção de
comentários aqui.).
Difícil entender a hostilidade do Olavo com o papa. Se
ele conseguiu ter uma ótima amizade com Caio Fábio sem precisar xingar o
rei do gramscismo e esquerdismo evangélico, qual a dificuldade dele com o Papa
Francisco? Ao arrumar confusão com o papa, Olavo está comprando briga com a
própria Igreja Católica.
Continuando, a BBC disse:
Um dos
pilares do discurso político de Carvalho trata do papel do Foro de São Paulo,
conferência criada em 1990 pelo PT para debater os rumos da esquerda
latino-americana após o fim da União Soviética.
Entre
vários outros movimentos de esquerda, o foro abriga os partidos que hoje
governam os membros da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América
(Alba), entre os quais Cuba, Equador, Bolívia, Nicarágua e Venezuela. Segundo o
filósofo, o foro deu ao PT o “comando estratégico da revolução comunista na
América Latina.”
Para
Carlos Melo, professor de ciência política do Insper, em São Paulo, a ideia de
que o foro articula a esquerda latino-americana é um “mito criado para tentar
aglutinar o lado oposto.” Ele diz que derrotas recentes da esquerda em vários
países da região mostram que o foro não é tão poderoso assim.
“Houve
uma onda da esquerda na América Latina e agora, ao que tudo indica, haverá uma
onda conservadora. São processos naturais, a história funciona dentro de
ciclos.”
Em outro ponto, a BBC trata de “esoterismo islâmico e
astrologia,” consagrando-o como filósofo ocultista:
Nos
anos 1980, antes de se projetar no debate político brasileiro, Carvalho flertou
com a Escola Tradicionalista, corrente de pensadores e estudiosos da religião
preocupados com o que consideravam um declínio das formas tradicionais de
conhecimento do Ocidente.
Naquela
época, ele aderiu à tariqa (ordem mística muçulmana) liderada pelo alemão
Frithjof Schuon (1907-1998), um dos expoentes do movimento e que aceitava em
seu grupo adeptos de diferentes religiões.
Carvalho
deixou a tariqa tempos depois, mas diz que a experiência foi “absolutamente
indispensável” para sua formação.
Em
outro desvio na carreira, no fim dos anos 1970, trabalhou como astrólogo em São
Paulo. Do signo de Touro, diz que a astrologia “é um tremendo problema
científico que nunca foi tratado seriamente.”
“Algo
na astrologia tem algum fundamento — algo, não sei exatamente o quê,” diz. No
fim, chegou à conclusão “de que o problema era grande demais para mim.”
A BBC só não conseguiu perceber que o antigo hábito da astrologia, o vício de “prever,” continua vivo
e intacto nele. Olavo é famoso no Brasil por seus seguidores (até mesmo
jovens imaturos que não têm mais que duas décadas de existência) que insistem
que suas previsões de uma, duas ou até três décadas atrás “se cumpriram
fielmente.”
A BBC tenta então descrevê-lo como “católico,” embora
o único líder católico que dê apoio explícito ao Olavo seja o Pe. Paulo
Ricardo:
Hoje
Carvalho se reaproximou da Igreja Católica, onde diz ter sido criado.
As
opiniões do filósofo sobre o papel da Igreja Católica na Inquisição lhe
renderam críticas entre evangélicos. Carvalho escreveu no Twitter em 2013 que
“a entidade chamada Inquisição é uma invenção ficcional de protestantes.”
“Até
mesmo na imagem popular das fogueiras da Inquisição a falsidade domina. Todo
mundo acredita que os condenados ‘morriam queimados,’ entre dores horríveis. As
fogueiras eram altas, mais de cinco metros de altura, para que isso jamais
acontecesse.”
De
acordo com ele, os hereges — “menos de dez por ano em duas dúzias de países” —
morriam sufocados antes que as chamas os atingissem. Criticado nas redes
sociais pela afirmação…
Dois
anos depois, xingou Lutero e Calvino, principais líderes da Reforma
Protestante. “A Igreja Católica superlotou-se de filhos da puta ao longo dos
séculos, mas a protestante já nasceu fundada por dois.”
Para os interessados em se aprofundar mais nessa
questão, recomendo dois artigos importantes:
A BBC continua:
Os
mergulhos no esoterismo e na astrologia afastaram Carvalho do jornalismo, onde
começou a carreira. Um ano após o golpe militar de 1964, ele escreveu para o
jornal do centro acadêmico da Faculdade de Direito da USP, que se opunha à
ditadura.
Entre
1966 e 1968, militou no Partido Comunista. “Durante todo o tempo da ditadura,
estive contra ela — quando não estava militando, estava ajudando a esquerda,
escondendo foragido do governo, escondendo arma. Fiz o diabo,” recorda.
Em 2005,
dois meses após se mudar para os EUA e perder a coluna que tinha no jornal O
Globo, o escritor passou a dar cursos de filosofia pela internet.
Carvalho
passou a ensinar filosofia sem jamais ter se formado academicamente nesse campo
— nem em qualquer outro. Conta que aprendeu sobre o tema por conta própria ao
longo de vários anos, longe das “ideologias” que cerceiam o ensino
universitário.
O desdém
de Carvalho pela filosofia da academia é recíproco.
Coordenador
do curso de filosofia da PUC-PR, Geovani Moretto diz que conheceu Carvalho
quando era estudante e se admirou com sua capacidade de “debater a filosofia a
partir de questões cotidianas, da política e da economia.” Hoje Moretto diz que
ele “virou aquilo que tanto criticava: um dogmático.”
A BBC então diz:
“Um
dos raros defensores de Carvalho” é “o deputado federal Marco Feliciano
(PSC-SP), que já o [citou] em discursos no Congresso.”
Feliciano foi mencionado porque em pleno Congresso
Nacional ele louvou o Olavo “como um verdadeiro profeta” — o mesmo homem que exalta a
máquina assassina da Inquisição que matava homens e mulheres de Deus.
Normalmente, Feliciano condena torturas e genocídios.
Em 2015, da tribuna do Congresso Nacional ele condenou o genocídio de cristãos armênios cometido por
muçulmanos turcos. Contudo, num contraste desconcertante, em vez de ele
usar a tribuna do Congresso para condenar a Inquisição (que já foi condenada até pelos legisladores de Pernambuco, que tem hoje
uma data oficial em memória das vítimas da Inquisição), Feliciano exaltou o maior defensor brasileiro do revisionismo da
Inquisição.
Em seguida, a BBC aproveita para falar dos olavetes:
No
Facebook, ao menos dez grupos agregam “olavetes,” termo com que o próprio
Carvalho se refere aos seguidores. Há ainda páginas que satirizam o escritor e
seus fãs. No site Desciclopédia, os “olavetes” são descritos como “zumbis do
mestre Olavo.”
Por falta de espaço, só citei da reportagem da BBC os
pontos que considerei mais importantes sobre o filósofo que, no final das
contas, acabou sendo retratado e consagrado pela BBC como filósofo ocultista e
da Inquisição. O restante da matéria está aqui.
A BBC passou a perna na Folha de S. Paulo e Globo
ao mostrar o Olavo do esoterismo islâmico e Inquisição. Por que tanta dificuldade
da mídia brasileira mostrar isso?
Fonte: www.juliosevero.com
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