20 de maio de 2014
Universidade Mackenzie critica Teologia da Missão Integral?
Universidade Mackenzie critica Teologia da Missão Integral?
Julio
Severo
Enfim, a Universidade Presbiteriana
Mackenzie, através de seu programa “Academia
em Debate” da TV Mackenzie, se pronunciou em público sobre a Teologia da
Missão Integral (TMI).
Diante da avalanche de indagações
do público, líderes mais perto do foco da Teologia da Missão Integral estão sob
a pressão, de seu próprio público religioso, de dar respostas. Não muito tempo
atrás, sob a mesma pressão, Renato Vargens, pastor calvinista de Niterói,
também teve de emitir o que ele chamou de uma “pequena
nota” sobre a TMI.
O
problema não é novo. A novidade é que depois de décadas de silêncio desses
mesmos líderes, seu próprio público começou a fazer questionamentos depois de
ter acesso a várias denúncias contra a TMI. As fontes dessas denúncias foram
meu próprio blog, o jornalista Edson Camargo, o site Mídia Sem Máscara, o Rev.
Alberto Thieme, o Dr. Fábio Blanco e algumas outras poucas vozes solitárias. Há
também um e-book de minha autoria, intitulado “Teologia da Libertação X Teologia
da Prosperidade,”
que aborda exclusivamente a questão da TMI. O e-book foi publicado em maio de
2013 e traz muitos esclarecimentos sobre esse antigo problema.
No “Academia em Debate,” o
apresentador, o Rev. Augustus Nicodemus Lopes, trata da TMI com dois
professores do Mackenzie, Rev. Jonas Moreira Madureira e Rev. Filipe Costa
Fontes. O alvo do programa, conforme o apresentador, foi trazer “algum
esclarecimento.”
De acordo com Madureira, a TMI nasceu
em solo latino-americano, lá pelo final da década de 1960, com destaque para
seus expoentes: Samuel Escobar e René Padilla. Mas, embora seja doutor em
filosofia, Madureira se absteve de dar um esclarecimento sobre a presença da
TMI na Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB) nas décadas de 1950 e 1960,
deixando para a imaginação do telespectador a imagem vaga de uma TMI presente
em algum lugar da América Latina.
Richard Shaull, precursor da TMI na IPB na década de 1950
“Teologia
da Libertação X Teologia da Prosperidade”
aponta que na década de 1950 o Rev. Richard Shaull, missionário calvinista
americano adepto do marxismo, era professor do Seminário Presbiteriano do Sul,
a mais respeitada instituição teológica da IPB na época. Por quase uma década
(de 1952 a 1959), ele influenciou uma geração de alunos que, mais tarde, se
tornariam pastores e teólogos da IPB.
A influência de Shaull teve impacto
decisivo em seu mais famoso discípulo, Rubem Alves, que havia se tornado pastor
da IPB. Podem dizer que o bebê da TMI nasceu em algum lugar longínquo da
América Latina, isentando de certa forma o Brasil, mas não há dúvida de que já
estava sendo gestado no contexto da IPB e outras igrejas históricas do Brasil.
Lausanne e a TMI
Ao ser perguntado por Nicodemus
sobre Lausanne e a TMI que estava florescendo na América Latina, Madureira se
perde, não conseguindo focar causa e problema. Ele poderia apontar que a
presença de René Padilla e sua turma, inclusive brasileiros com o tipo de
educação teológica que Shaull dava, buscou com ímpeto fazer o Congresso
Lausanne de Evangelização Mundial pender para uma direção teológica de Missão
Integral ou mesmo Teologia da Libertação.
Madureira também omitiu, por
desconhecimento ou contrariedade, o fato de que a oposição conservadora em
Lausanne estava sob a direção de C. Peter Wagner, que prosseguiu ali o mesmo
embate que já mantinha com Padilla e outros contra os esforços deles para
esquerdizar a missão da igreja para os pobres.
Nessa questão, “Teologia
da Libertação X Teologia da Prosperidade”
cita texto de Ricardo Gondim sobre a TMI: “Gondim também se queixa
repetidamente de que a Teologia da Missão Integral teve seu avanço detido por
conservadores no Congresso Lausanne de Evangelização Mundial (Manila, 1989). Ed
Rene Kivitz, companheiro teológico de Gondim, já havia apontado Peter Wagner
como líder da oposição conservadora. A atuação de Wagner, hoje líder do
movimento apostólico mundial, exemplifica o potencial neopentecostal para deter
o avanço esquerdista nas igrejas. Na dissertação de Gondim (p. 53), o erro de
Wagner era ‘propor guerra espiritual como solução para os problemas sociais’ —
uma solução tipicamente neopentecostal, em contraste com a solução esquerdista
de revoluções políticas. Ecoando queixa do Rev. Luiz Longuini, da IPB, Gondim
afirma que Peter Wagner já vinha frustrando os progressistas há anos. Em1969,
ao participar do CLADE (Congresso Latino-Americano de Evangelização), Wagner
distribuiu seu livro que afirmava que a missão da igreja é priorizar a salvação
pessoal e destacava a teologia esquerdista como perniciosa.”
Meu e-book “Teologia
da Libertação X Teologia da Prosperidade”
tem o prefácio e recomendação de Peter Wagner, esse campeão contra a TMI desde
a década de 1960.
A TMI está ligada ao marxismo? Professor do Mackenzie diz que não.
Voltando-se então para o Rev.
Filipe Costa Fontes, Nicodemus pergunta: “O que a gente ouve de crítica às
vezes da Teologia de Missão Integral é que de alguma forma está associada ao
marxismo. Essa crítica procede?”
A
resposta enfática do professor do Mackenzie é que a TMI, ao ser acusada de ser
uma espécie de marxismo disfarçado, é vítima de uma crítica “excessiva” e “indevida,”
mas ele entra em parafuso de confusões e distorções ao afirmar que existem
“inúmeras aproximações e semelhanças” entre a TMI e o marxismo. Ao mesmo tempo
que nega, afirma.
Um de seus parafusos foi dizer que
“os proponentes da TMI têm relacionado a TMI com determinados movimentos e
organizações, que são geradores da Teologia da Libertação, que têm
declaradamente um fundo marxista, como a Fraternidade Teológica Latino
Americana.” Se ele não entrou em parafuso, ele quer que eu e outros entrem em
parafuso. René Padilla, considerado por eles como um “pai” da TMI, sempre teve
enorme influência na Fraternidade Teológica Latino Americana. Mesmo assim, de
forma absurda Fontes, ao mesmo tempo em que reconhece que a Teologia da
Libertação e a Fraternidade Teológica Latino Americana têm um fundo marxista
radical, tenta distanciar a TMI desse fundo.
O atual presidente da Fraternidade
Teológica Latino Americana é o Rev. Jorge Henrique Barro, pastor da IPB. Em
agosto de 2014 ele realizará o Congresso
Internacional de Missão Integral,
com a presença de Padilla. Ora, se a Fraternidade Teológica Latino Americana
tem fundo marxista e se seu presidente presbiteriano fará um congresso
internacional de TMI no Brasil, por que esse esforço de tentar distanciar a TMI
de seu fundo marxista?
Encobrindo as ligações da TMI na IPB?
Indo mais longe, por que não
esclarecer a presença antiga de presbiterianos no movimento de TMI, desde o
Rev. Richard Shaull até Jorge Henrique Barro hoje?
Por que não esclarecer a presença
de Ricardo Bitun, que defende igualmente a TMI e a Teologia da Libertação, como
professor nas aulas de teologia do Mackenzie?
Por que o apresentador do “Academia
em Debate,” quando era chanceler do Mackenzie, permitia não só Bitun ali, como
também Ariovaldo Ramos, que é um dos “apóstolos” da TMI no Brasil?
Amigo falecido de Nicodemus já dizia que TMI é a versão evangélica da Teologia da Libertação
Mais do que ninguém, o Rev.
Augustus Nicodemus Lopes sabe que seu falecido amigo, o Bispo Robinson
Cavalcanti, já havia declarado
que a Teologia da Missão Integral é a versão evangélica da Teologia da
Libertação. Se Nicodemus achava essa declaração exagerada, por que nunca veio a
público dar esclarecimento, sabendo da forte presença da TMI em igrejas e
seminários da IPB?
O próprio Ariovaldo Ramos também já
declarou
que a “Teologia da Missão Integral é uma variante protestante da Teologia da
Libertação,” e nem por isso Nicodemus nunca lhe fechou as portas do Mackenzie
para palestrar e dar aulas especiais de teologia.
Em
destaque também no “Academia em Debate” estava a forma como a TMI foi
“criticada” — da forma mais amistosa possível. Em contraste, quando teólogos
calvinistas criticam o neopentecostalismo, não poupam adjetivos como “heresia”
e outros termos semelhantes. No entanto, em nenhum momento da entrevista de Nicodemus
com seus colegas teólogos do Mackenzie, a palavra heresia foi mencionada. Pelo
contrário, apesar de se apontar várias ligações da TMI com o marxismo, houve
uma tentativa sutil de distanciá-la de heresia, especialmente heresia marxista.
Igrejas tradicionais não sabem alcançar os pobres, diz professor do Mackenzie
Aos 16 minutos da entrevista, o
Rev. Filipe Costa Fontes menciona que os defensores da TMI criticam os protestantes
que só pensam em coisas espirituais e esquecem o lado material e físico.
Nicodemus então pergunta se a crítica procede. Fontes diz que sim,
especialmente no caso de igrejas tradicionais. Não é preciso ter a assistência
de um gênio de lâmpada mágica para saber que o avanço da TMI, desde o inicio,
tem sido nas igrejas tradicionais. A IPB de Nicodemus e do Mackenzie tem farta
evidência disso, se quiser revelar.
Em vez de fazerem como os neopentecostais
e preencherem seu limbo espiritual com coisas do Espírito, preenchem com uma
teologia marxista que os pobres não precisam.
Os pobres e o neopentecostalismo
Nesse ponto, Jonas Madureira fez
uma intervenção oportuna, recordando comentário que Luiz Felipe Pondé, filósofo
judeu secular, fez, de que “as teologias latino-americanas, especialmente a
Teologia da Libertação, escolheram os pobres, mas os pobres escolheram os
pentecostais.” A recordação está mais ou menos correta. Em seu livro “Contra um
Mundo Melhor” (Editora Leya), Pondé escreveu: “A igreja católica de esquerda fez a opção pelos pobres, mas os pobres
fizeram a opção pelo neopentecostalismo.”
A Teologia da Missão Integral,
predominante durante décadas em igrejas protestantes tradicionais, também fez a
opção pelos pobres, mas seu público-alvo fez a opção neopentecostal pelo
sucesso material. Ao invés de se juntar à esquerda messiânica e lutar por
“outro mundo possível,” os pobres preferem a busca individual da prosperidade.
Certos ou errados em sua busca da prosperidade, o fato é que os neopentecostais
arruinaram os planos dos eruditos, teólogos e filósofos evangélicos e católicos
que defendem eloquentemente a Teologia da Missão Integral e a Teologia da
Libertação. Essa é a principal razão do ódio mal disfarçado que os teólogos de
ambas as ideologias têm do neopentecostalismo.
Não por acaso, no Fórum Social
Mundial de 2012, Gilberto Carvalho fez declarações
reveladoras sobre o ódio do PT aos neopentecostais. Gilberto convocou os
camaradas para uma guerra ideológica contra as igrejas neopentecostais que
contrariam a agenda petista ao propagar “valores conservadores” através dos
seus meios de comunicação.
Quando
não havia nenhum movimento neopentecostal no Brasil, já havia TMI na IPB e
outras igrejas protestantes tradicionais. Mas não havia nenhum ódio a TMI. Agora
que os pobres recorrem às igrejas neopentecostais, PT e outros partidos de
esquerda as atacam com ódio. E o ataque vem ajudado por teólogos tradicionais
que, tal como as esquerdas, detestam que os pobres abracem o neopentecostalismo,
atacando-o como heresia.
Como não tratar uma heresia como heresia
Mas por que nunca tratam a TMI como
heresia? Medo de ofender a multidão de colegas denominacionais que abraçaram
essa heresia?
A grande liderança católica
brasileira, representada pelo poderio descomunal da CNBB, também não trata a
Teologia da Libertação com a seriedade que merece.
No
caso de Nicodemus e outros teólogos da IPB, a omissão de tratar a heresia como
heresia não se justifica. São mais de 60 anos de contato com a Teologia da
Missão Integral dentro da Igreja Presbiteriana do Brasil, desde Richard Schaull
e depois Rubem Alves e mais tarde o mais astuto de todos: Caio Fábio.
São mais de 60 anos de omissão e
negligência, e agora querem tapar o sol com a peneira de uma crítica branda e
amistosa?
Se a meta da TV Mackenzie foi
“criticar” a TMI sem comprometer o envolvimento histórico da IPB e seus
teólogos nessa heresia, a iniciativa foi um sucesso. Qual é o movimento herético
que não sonha em ser “criticado” com tamanha brandura?
Fonte:
www.juliosevero.com
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