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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

O governo das massas sairá triunfante na Ucrânia?

5 de fevereiro de 2014


O governo das massas sairá triunfante na Ucrânia?

Pat Buchanan critica Kerry e McCain por se intrometerem no que "não diz respeito aos EUA”

Pat Buchanan
Apesar da tagarelice americana sobre democracia, os americanos parecem dispostos a deixar a devoção aos princípios democráticos de lado quando ela se põe no caminho da Nova Ordem Mundial.
Pat Buchanan: colunista do WND e ex-assessor do presidente Ronald Reagan
Em 2012, nas eleições presidenciais do Egito, Mohamed Morsi, da Irmandade Islâmica, ganhou por ampla maioria, e o presidente Obama elogiou o resultado.
Um ano mais tarde, o exército egípcio depôs e prendeu Morsi e matou mil membros da Irmandade. O golpe recebeu o apoio de John Kerry, que explicou que o exército egípcio estava “restaurando a democracia”.
Agora é a vez da Ucrânia.
Em 2010, Viktor Yanukovych, em eleições classificadas pelos observadores como livres e imparciais, foi eleito presidente. Seu mandato termina em 2015.
No entanto, desde novembro, manifestantes ocupam a Praça Maidan em Kiev, entram em conflito com a polícia e exigem a renúncia de Yanukovych. Os Estados Unidos parecem agora estar colaborando com a Europa para provocar a desestabilização ou a queda desse governo democraticamente eleito.
Golpes militares, ao estilo do Cairo, ou motins populares, ao estilo de Kiev; essas são as legítimas armas no arsenal da democracia.
O que Yanukovych fez para merecer ser derrubado pela multidão? Escolheu a Rússia em vez da Europa.
Na competição entre a aliança econômica de Vladimir Putin e a da União Europeia, Yanukovych havia fechado com a segunda. Mas depois de uma oferta de US$ 15 bilhões de Putin e um desconto no preço do combustível, o presidente ucraniano resolveu furar com a União Europeia e ficou com a Rússia.
Yanukovych sentiu que não poderia recusar a oferta de Putin.
A Ucrânia ocidental, que preferia a União Europeia, ficou enfurecida. E assim surgiram os protestos para derrubar o presidente. E lá se foi John McCain a Kiev demonstrar a solidariedade americana aos manifestantes.
E agora Kerry se juntou a McCain para se intrometer em assuntos que não dizem respeito aos EUA, declarando em Munique que “Em lugar nenhum a luta por um futuro democrático para a Europa é tão importante quanto agora na Ucrânia”.
Nós “estamos com o povo da Ucrânia”, declarou Kerry.
Mas qual povo? Os ucranianos que elegeram Yanukovych, e ainda o apoiam, ou a multidão na praça de Maidan, que o quer fora e se nega a abandonar seus acampamentos fortificados até que ele saia?
Kerry coloca os americanos ao lado do motim que quer derrubar o presidente, forçar novas eleições e assumir o poder. Mas esses mesmos americanos jamais ficariam de braços cruzados caso uma multidão com objetivos similares ocupasse Washington.
Agora o governo americano supostamente está conspirando com os europeus para montar um pacote de ajuda, caso Yanukovych se renda, para que o país abandone o acordo com a Rússia e se junte à União Europeia.
Mas se a oferta de Putin de US$ 15 bilhões foi suborno, o que é então essa “ajuda” americana e europeia?
Enquanto governa uma nação dividida, Yanukovych está longe de ser um tirano. À medida que a multidão foi ficando mais violenta, ele dispensou o comando do seu governo, ofereceu a cadeira de primeiro ministro a um líder da oposição, revogou as leis recentemente aprovadas para reprimir as manifestações e tirou uma licença médica de quatro dias.
Mas a multidão, sentindo que ele está cedendo e vislumbrando a vitória, está pressionando mais ainda. Agora já ocorreram várias mortes entre manifestantes e policiais.
Putin está irritado, mas inibido pela necessidade de manter uma postura amigável para as Olimpíadas de Sochi. No entanto, mesmo assim ele apresentou um argumento válido.
Como iriam reagir os europeus se, durante a crise financeira, ele (Putin) tivesse voado até Atenas e instigado os arruaceiros que exigiam o calote da Grécia e a sua saída da Zona do Euro?
Como a União Europeia iria reagir se Putin apoiasse o Partido da Independência do Reino Unido, que apoia a separação da União Europeia, ou o Partido Nacional da Escócia, que exige a separação da Grã-Bretanha?
A Ucrânia foi independente durante um curto período após a Primeira Guerra Mundial, e o foi novamente após a queda da União Soviética. Mas os laços religiosos, étnicos, culturais e históricos entre Rússia e Ucrânia vêm de séculos.
Oito milhões de ucranianos são da etnia russa. No leste da Ucrânia e na Crimeia, a maioria fala o idioma russo e cultiva esses laços. A Ucrânia ocidental olha para a Europa. Parte do território, de fato, pertenceu ao Império de Habsburgo.
Se hostilizada ou pressionada demais, a Ucrânia pode se desintegrar.
O serviço de segurança, que interrogou manifestantes presos, parece acreditar que os americanos estão por trás do que está acontecendo. E considerando o papel clandestino da Fundação Nacional para a Democracia nas revoluções coloridas há uma década atrás na Europa Oriental e Central, a suspeita não é sem fundamento.
E o ministro das relações exteriores da Rússia, Sergei Navrov, não está de todo errado quando diz que “uma escolha está sendo imposta” à Ucrânia, e que os políticos europeus estão instigando protestos e tumultos “por pessoas que invadem e tomam prédios públicos, atacam a polícia e utilizam slogans nazistas e antissemitas”.
Se, como resultado dos motins que estão paralisando a capital, o governo eleito democraticamente vier a cair, os americanos poderão ter nas mãos não somente uma Rússia furiosa e vingativa, mas uma segunda Guerra Fria.
E abrirão um precedente que poderá assombrar a Europa, pois os partidos de direita populista — que estão surgindo, se proliferando e desejam acabar com a União Europeia — estão aprendendo com o exemplo americano.
Pat Buchanan é colunista do WND e foi assessor do presidente Ronald Reagan.
Traduzido por Luis Gustavo Gentil do original do WND: Will mobocracy triumph in Ukraine?
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