COMO RECONHECER UM CRENTE/EVANGÉLICO?

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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Schopenhauer e a arte de deixar envergonhados os crentes no progresso

 

LUCIANO AYAN


Schopenhauer, com sua visão realista a respeito da realidade humana, já sabia que as idéias de gente como Hegel eram uma das fraudes mais escandalosas que o pensamento humanista gerou. Hegel, a quem tratava como “destruidor de papel e de mentes”, não era o único a ser metralhado pela pena impiedosa schopenhauriana.Todos os progressistas passavam pelo mesmo crivo.

Dizia ele em “A Arte de Insultar” (compilação feita por Franco Volpi alguns pensamentos retirados das obras do alemão), que “o progresso é o sonho do século XIX, do mesmo modo como a ressurreição dos mortos era o do século X”, antecipando em quase dois séculos as demolições do humanismo que John Gray faria em “Cachorros de Palha”.

É claro que deve-se esclarecer que ninguém em sã consciência é contra o “progresso” em termos tecnológicos. Qualquer que tenha juízo torce para a cura de doenças graves, para o surgimento de novos métodos cirúrgicos, para o custo mais barato das blindagens para carros e daí por diante. Mas o progressismo, enquando ideologia humanista, não se resume às expectativas sobre melhorias da ciência e tecnologia. O progressista acredita que não só a tecnologia humana evolui, mas também o ser humano junto, o qual estaria em um “devir” inexorável. Ou seja, através de ações “progressistas”, um dia se alcançará a paz e fraternidade universais.

Em relação às ilusões positivistas, ele também é implacável, mesmo quando trata de Kant, que admirava, mas não por causa do humanismo deste:

Kant institui no íntimo de nossa alma um tribunal completo, com processo, juiz, acusadores, advogados e sentença. Se tudo se passasse dentro de nós exatamente como Kant representa, seria de admirar que ainda pudesse existir um homem, nem digo tão ruim, mas tão estúpido a ponto de agir contra a consciência. Pois uma instituição sobrenatural tão característica como essa na nossa consciência e um tribunal de exceção dissimulado como esse na escuridão misteriosa de nosso íntimo por certo aterrorizariam todos nós e nos incutiriam um medo de demônios realmente capaz de nos demover da intenção de obter vantagens breves e passageiras, em vista da proibição e das ameaças de poderes sobrenaturais e assustadores, que se manifestariam de maneira tão clara e próxima. Em vez disso, na realidade constatamos que a eficácia da consciência é, de modo geral, tão fraca, que todos os povos já pensaram seriamente em auxiliá-la por meio da religião positiva, ou até mesmo em substituí-la por esta.

Em resumo, a idéia de que “a razão humana” deverá agir de forma “objetiva”, para os interesses “gerais do todo”, não passa de uma ilusão. Momentos como esse mostram que um realista como Schopenhauer demonstrava uma capacidade de perceber o óbvio, em uma época em que os “filósofos” criaram um ser humano mitológico em suas mentes. Esse tipo de percepção pode ser analisada no trecho a seguir:

Por toda a parte e em todas as épocas houve muita insatisfação com os governos, as leis e as instituições públicas; em grande parte, porém, porque há sempre alguém pronto a imputar a estes a miséria, que é inseparável da existência humana, uma vez que – evoquemos o mito – é a maldição que atingiu Adão, e com ele toda a espécie humana. No entanto, nunca essa falsa ilusão foi adotada de maneira tão mentirosa e atrevida como pelos demagogos da “atualidade”. Estes, enquanto inimigos do cristianismo, são otimistas: o mundo é para eles um “fim em si mesmo” e, portanto, na sua essência, ou seja, segundo sua constituição natural, é organizado com a máxima excelência, a verdadeira sede da felicidade. Eles atribuem inteiramente aos governos os males colossais do mundo, que clamam contra tudo isso: se os governos de fato cumprissem seu dever, o céu seria na terra, ou seja, todos poderiam comer, beber, propagar-se e morrer sem esforço nem dificuldades, pois esta é a paráfrase do seu “fim em si mesmo”, e o objetivo do “progresso infinito da humanidade”, que eles não se cansam de proferir com frases pomposas.

Sobre a “dignidade do homem”, ele dispara:

Essa expressão “dignidade do homem”, proferida certa vez por Kant, tornou-se em seguida santo-e-senha de todos os moralistas desorientados e sem idéias, que escondem sua falta de um fundamento verdadeiro da moral, ou que tenha pelo menos algo a dizer, por trás da imponente expressão “dignidade do homem”, contando prudentemente com o fato de que seu leitor também se identificará de bom grado com essa dignidade e, por conseguinte, ficará satisfeito.

Os melhores momentos de “A Arte de Insultar”, por sua vez, tratam do Estado:

Em última análise, a necessidade da existência do Estado, baseia-se na reconhecida injustiça praticada pelo gênero humano: sem ela, não se poderia pensar num Estado, uma vez que ninguém teria que temer por seus direitos. Bastaria, portanto, que houvesse uma sociedade ligeiramente semelhante a um Estado para combater os ataques de animais selvagens ou se proteger dos maus elementos.  A partir desse ponto de vista, percebe-se claramente a obtusidade e a superficialidade dos filosofastros que, com seus discursos pomposos, apresentam o Estado como o objetivo supremo e o apogeu da existência humana, fornecendo-nos assim uma apoteose típica de filisteus.

Enfim, é o tal culto ao Estado, componente de todas as religiões políticas – ah, e mesmo que os marxistas digam que a ambição é o “fim do estado, a partir do estado ditatorial do proletariado”, estão naturalmente depositando uma esperança absurda no próprio Estado. Aliás, em relação à serventia ideal para o Estado, Schopenhauer prossegue:

O único objetivo do Estado é proteger os indivíduos uns dos outros e todos juntos de inimigos externos. Alguns filosofastros alemães desta época venal gostariam de transformá-lo numa instituição para a educação e a edificação moral: tal intenção esconde, em segundo plano, o objetivo jesuítico de suprimir a liberdade e o desenvolvimento individual de cada um para transformá-lo na simples roda que move a máquina político-religiosa à moda chinesa. No entanto, este é o caminho que em outras ocasiões conduziu às inquisições, aos autos de fé e às guerras religiosas. Pelas palavras de Frederico, o Grande, “no meu território cada um deve cuidar da própria bem-aventurança conforme desejar”, bem se vê que ele nunca quis pisar em seu território. Em contrapartida, vemos ainda hoje e por toda parte (com exceção mais aparente do que real da América do Norte) que o Estado também se preocupa com as necessidades metafísicas dos seus membros.

Schopenhauer, se vivo estivesse, provavelmente teria apenas dito, em relação ao advento dos genocídios marxistas e nazistas: “Pois é, estúpidos, eu avisei”. Aquilo que deixou muitos intelectuais surpresos e pasmos, caso tivessem prestado atenção às palavras do autor do magistral “O Mundo como Vontade e Representação”, seria tratado apenas como a ocorrência do óbvio.

Em seu tempo, Aristóteles foi capaz de perceber que o ser humano priorizava suas paixões na interpretação da realidade, enquanto Edmund Burke sabia que uma proposta de revolução com base no apelo popular e ênfase no radicalismo só poderia resultar em bosta. Assim como Schopenhauer, conseguiram fazer algo que quase nenhum filósofo da “nova filosofia” consegue: olhar o homem como ele realmente é, ao invés de tratar de um mito idealizado.

Idealizações a respeito do ser humano podem ser reconfortantes à primeira vista, assim como pode ocorrer com a crença em Deus. Mas a crença em Deus, por si só, não é perigosa, ao passo que os delírios a respeito da “bondade natural do ser humano” abrem brechas para banhos de sangue. Os acertos de gente como Burke (que previu as consequências nefastas da Revolução Francesa, com antecedência impressionante para alguns, e óbvia para os raros realistas) e Schopenhauer fazem parte de um modo de pensar de uma rara elite de filósofos.

E este modo reside meramente em entender como o ser humano é. E é exatamente o que o mundo corporativo exige de qualquer consultor que preste, simplesmente o mero entendimento do seu objeto de análise. Estando o objeto de análise claramente identificado (ou pelo menos chegando perto disto), todo o resto vem depois.

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