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sábado, 24 de setembro de 2016

Fúria nossa de cada dia, by Mônica Torres


Fúria nossa de cada dia




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Mon
Vez ou outra, uma leitura me provoca inquietação, …e medo. Refiro-me ao artigo “A CEGUEIRA MORAL NA CONVIVENCIALIDADE” de Mônica Ventura.
É perturbador ler e aceitar como verdade, verdades que desejamos desprezar, a fim de torná-las mentiras.
…nem mesmo o transcorrer dos séculos tem sido suficientemente forte para aplacar a cegueira moral forjada no orgulho das criaturas que faz com que uns violentem, sem pudores, o sentimento, a emoção, o ideal e até mesmo a vida de outrem . (trecho do artigo).
O que é essa fúria, que transborda dos homens, que envenena o mundo com ódio? O que é isso, que deixa olhos e ouvidos, cegos para minorias, para os milhões de oprimidos, desprezados, refugiados, escravizados, esquecidos do mundo? Quem são essas pessoas que abraçam a noite como se fosse dia? Que se revezam em ferir, oprimir e escravizar, incapazes de sentir como sua, a dor do outro?
Não nascemos partidários de nada! Não nascemos cultuando religião alguma.. Limpos de memória e conceitos, Deus nos trouxe à vida, capazes de observar à nossa volta e aprender com a natureza animal, se não houvera quem nos desse direção na nossa formação intelectual.
Acontece que nasce joio em meio ao trigo, e tantas são as raízes que “nem mesmo o transcorrer dos séculos tem sido suficiente para transformá-las.
Ivan Illich em sua obra “La Convivialité”, aborda temas delicados e de interpretação delicada também. Apoia sua linha de pensamento numa liberdade conseguida somente através de recurso exclusivamente interior, descartando a importância da escola institucionalizada para o aprendizado humano e exaltando a teoria do auto aprendizado. Chega a dizer que “…a produção do saber e todas as coisas que constituem a escola, enganam a sociedade…” As interpretações merecem um cuidado atento, porque há doutrinários que se apoiam confortavelmente nessas palavras a fim de tirar de seus irmãos as oportunidades desse mesmo saber.
Tantas são as linhas de pensamentos, candidatas a filosofia, quanto é a incapacidade humana de abrir os olhos para as necessidades mais simples de seus irmãos.
O mal se repete, alheio e indiferente às palavras escritas nos livros e pronunciadas nas bocas importantes ou ordinárias.
O homem está contaminado de sua própria vaidade, como entre as colunas da Roma antiga, os personagens no artigo aqui citado. Raras Lívias, e  Flávias demais a manipularem os destinos da humanidade e atrasar sua evolução. Quem leu a obra “Há Dois Mil Anos”, compreenderá do que se trata.
A tendência humana sempre foi controlar. E fizeram guerras, torturaram, trucidaram e escravizaram em desejo desse controle.
Que diferença há entre judeus de ontem que morreram em fugas pelas montanhas e estradas frias da Europa, dos refugiados sírios nos mares de agora? Faz tempo que a inclemência fez seu lugar entre os povos, acobertada pela banalização assumida, que cerra os olhos e ouvidos aos menores, que mata sob rótulos como “crimes de honra’, …como se houvesse honra em um crime? Como se todos os crimes não fossem “desonra”? …como são não fosse apenas fúria a essência dessas iniciativas?
De repente o mundo todo parece ter cruzado uma linha… parece ter ultrapassado uma marca de moral, e para trás, parece ter esquecido a humildade, a compaixão, tolerância, piedade, misericórdia, fraternidade e o amor com que deveriam se tratar as pessoas. A natureza humana parece ter sofrido uma transformação, que em nada se parece com crescimento, porque não tem havido nesses tempos a evolução da alma, que não se depura de suas transgressões.
Não importa o nome que se dê a Deus, se conseguirmos encontrá-Lo à nossa volta. Não será paquistanês, americano, preto ou branco, católico, budista ou islamita… Então.. por que nós O desprezamos em nossos irmãos? por que O tratamos com indiferença? Por que O matamos todos os dias?
Quanto sofrimento ainda teremos que viver, para enfim viver?

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