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sexta-feira, 21 de março de 2014

O elitismo da "missão integral"

Se o pessoal da TMI diz amar os pobres, deveria começar amando os pobres domésticos da fé (Gl. 6:10). Mas não! São capazes de fazer juras de amor a criminosos, a invasores de terras, a gayzistas declarados, mas não conseguem demonstrar um mínimo de misericórdia pela igreja pobre.

Muitas vezes, o discurso de um grupo pode ser caracterizado, exatamente, pelo contrário de suas próprias atitudes. Enquanto berra aos quatro cantos que faz, acredita e defende algo, na prática age de maneira a negar, peremptoriamente, aquilo mesmo que apresentou como sendo sua bandeira. Isso é o que ocorre com a chamada Teologia da Missão Integral (TMI). Ela, que surgiu de um movimento que dizia ter como seus protegidos os excluídos, que lutava pela justiça social e que tinha uma preferência pelos pobres, não passa de uma ideologia, e como toda ideologia, mais fala do que faz.
Basta ver como os líderes da TMI ficam incomodados com a forma de atuar das igrejas pentecostais, estas, em sua grande maioria, inseridas nos bairros mais pobres das grandes cidades. Eles se incomodam com a ignorância teológica, com a falta de ordem, com as manifestações esteticamente feias, com a espiritualidade desvairada e com a total ausência de qualquer ideologia das “portinhas” que se abrem aos montes e que se autodenominam igrejas, ministérios, comunidades. Na verdade, os missionários da Missão Integral não suportam a pobreza da igreja brasileira, seu chão sujo e sua gritaria sem modos.
Se o pessoal da TMI diz amar os pobres, deveria começar amando os pobres domésticos da fé (Gl. 6:10). Mas não! São capazes de fazer juras de amor a criminosos, a invasores de terras, a gayzistas declarados, mas não conseguem demonstrar um mínimo de misericórdia pela igreja pobre que, bem ou mal, vai se virando em meio à população mais carente. Só porque estas igrejas não têm ouvidos para seu discurso, pois sequer o entende e, com isso, acabam sendo mais conservadoras do que eles suportariam que fossem, não apenas as desprezam, mas criticam-nas impiedosamente. O que parece é que no mundo da ideologia evangélica esquerdista há pobres que são mais merecedores de compaixão do que outros.
Mas isso não acontece por acaso. Não se deve ignorar que todos os apóstolos da Missão Integral são burgueses. Nenhum desses pensadores veio do meio do povão. Nenhum deles é pobre, nenhum excluído. São todos homens abastados, com boa instrução e bons rendimentos, que escrevem de seus gabinetes climatizados, a partir de suas igrejas confortáveis. Por isso, o público que eles atingem é semelhante a eles: uma classe média evangélica, cansada da feiura da igreja brasileira. As pregações da TMI encontram receptividade em uma multidão de evangélicos que querem fugir do sufocamento promovido por uma igreja espiritual demais, preocupada demais com a santidade. O que eles querem é viver uma religiosidade light, sem sujar demais as mãos, principalmente com endemoninhados babões vomitando em cima deles.
Há até algumas obras assistenciais desses grupos, pois o discurso ficaria completamente no vazio se não as tivesse. Porém, observem como são quase todas obras oficiais, como de ONG’s, sustentadas, muitas vezes, com dinheiro público, com parcerias com o Estado e que existem mais para propaganda, mais para serem vistas pelos de fora. Os assistidos por eles são, invariavelmente, pobres distantes, que podem ser atendidos hoje, mas que permitem que o assistente volte para casa para limpar suas mãos em álcool gel. Quem fica com o trabalho sujo são os pastores de bairro, em sua grande maioria de igrejas pentecostais e neo-pentecostais, com sua teologia torta, com seu português errado e com suas loucuras espirituais, mas que estão libertando as pessoas das drogas, retirando jovens da vida criminosa, dando algum alento e esperança para o cotidiano selvagem da vida pobre nos rincões brasileiros.
Ninguém fez mais para a salvação de pessoas condenadas ao inferno da vida miserável do que as pequenas igrejas de bairro, onde não há espaço para ideologia, onde Karl Marx deve ser, no máximo, o nome de algum jogador gringo de futebol. Por isso, quando um representante da Teologia da Missão Integral escreve, direto de seu laptop de última geração, alguma coisa relativa a defesa dos pobres, isso me soa como absurdamente cínico.
Na verdade, a Teologia da Missão Integral é elitista. Seu cessacionismo, sua aversão às manifestações pentecostais e sua retórica empolada apenas colocam-na cada vez mais longe de onde estão aqueles que ela mesmo diz defender. Seus líderes dizem amar os pobres, mas jamais os vi dividindo seus bens com nenhum deles.

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