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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Por que sou um cristão conservador?








Por que sou um cristão conservador?


“Somos conservadores e não, antes de tudo, apoiadores de um partido de direita” - Ben Shapiro.

Direto ao ponto: sou um cristão conservador, porque não leio a Bíblia sozinho!

Fujo da armadilha Iluminista que instaurou o paradigma de que “precisamos ler a Bíblia como se ninguém jamais a tivesse lido antes de nós na história deste país (ou do mundo)”. Não é mera coincidência que da presunção da razão iluminista surgiram várias seitas e heresias no século XIX exatamente por abraçarem “novas revelações”. Enfim, a Bíblia foi destacada de toda a tradição de gigantes da fé que nos precederam.

Embora uma linha de conservadores veja na Reforma Protestante a manifestação da “mentalidade revolucionária”, principalmente quando temos diante de nós os chamados movimentos radicais ligados à Reforma que, de fato, depredaram igrejas católicas e destruíram tudo que fosse romano, os principais reformadores como Calvino e Lutero, além de se oporem a tais movimentos, recorreram aos Pais da Igreja (principalmente Agostinho) para sistematizarem suas ideias e reformarem a própria Igreja Romana. Como o próprio nome diz, o interesse era por uma reforma e não pela criação de um novo grupo.

Passados 500 anos de Reforma Protestante, porém, tanto católicos como protestantes abriram suas igrejas e seminários à mentalidade revolucionária da Teologia Liberal, esta, indubitavelmente, fruto do Iluminismo e não da Reforma Protestante. A Reforma é acusada de iniciar a mentalidade revolucionária por causa do pressuposto do “livre exame” das Escrituras, muitas vezes confundido com “livre interpretação” por seus oponentes. Os Reformadores nunca defenderam a livre interpretação, mas, tendo a Bíblia na mão do cristão, que este pudesse ser livre para examinar se as pregações e doutrinas se sustentavam ou não na autoridade da Palavra, assim como os bereianos fizeram com o próprio apóstolo Paulo (At 17:11). É evidente que uma iniciativa como essa exigiria um esforço em direção à alfabetização e educação das pessoas comuns. E muitos, como Wycliffe na Inglaterra, fizeram isso: a Bíblia na língua do povo carece de um povo verdadeiramente educado!

Voltando ao assunto do post: sou um cristão conservador, porque não leio a Bíblia sozinho!

O cristão conservador não crê nas modas teológicas modernas e pós-modernas que incentivam negros, mulheres, indígenas e gays a recriarem suas próprias teologias como se o Espírito Santo, que se manifestou a diversas culturas nestes tantos séculos, não pudesse também ensinar com a tradição milenar da Igreja aos novos cristãos. A desculpa de que a Teologia não serve porque é “européia”, “americana”, “imperialista”, “ocidental” só revela duas coisas: um evangelismo que orienta as culturas-alvo a adotarem uma postura de prepotência ao invés da humildade cristã e, segundo, culturas que foram incentivadas a confundirem o evangelho com a cultura do evangelizador – quando a desculpa deste, na verdade, era “pregar um evangelho sem levar junto a cultura do missionário” (aliás, nada mais Iluminista do que essa crença romântica, não?).

Muitos missionários dos últimos tempos pregaram sob a desculpa de que não se poderia levar sua cultura junto com o evangelho, todavia, cometeram precisamente o erro que tanto esforçavam-se em não cometer: conscientemente ou não, eles evangelizaram sob a nova agenda do Iluminismo europeu! Assim, impregnaram o evangelho de uma cultura que abortava a história e a tradição do Cristianismo. Qual o resultado? Um outro evangelho.

O que vimos surgir na chamada América Latina tão zelosa em não reproduzir a “cultura do missionário”? Vimos surgir todas, vou repetir, TODAS as teologias oriundas do Iluminismo. A Teologia da Libertação e a Teologia da Prosperidade e suas nuances ([1]como a Teologia da Missão Integral) estão aí bem presentes e assentadas entre nós como testemunhas do que estou escrevendo. E não apenas entre nós, mas em todos os países ainda chamados de terceiro mundo. Tanto trabalho para se evitar a teologia do outro e o que se produziu? Uma avalanche de seitas e heresias, de teologias novas e novas idolatrias, sem falar das seitas neo-pentecostais([2]IURD, IGREJA MUNDIAL, SNT, E OUTRAS que fazem uso das teologias citadas). Tudo fruto das prerrogativas reivindicadas pela “Era das Luzes”. Os últimos 200 anos foram fartos em criar o novo, porque, simplesmente, desconsideraram qualquer autoridade que não fosse o próprio umbigo!

A História não perdoa: se você não oferecer o maravilhoso cardápio de sua estimável teologia, outros farão. E fizeram! Aquela ilusão romântica do “bom receptor” fez com que missionários católicos e protestantes, convencidos pelo Iluminismo sobre “a liberdade” de todos os povos de criarem sua própria teologia, muitas vezes não soubessem dialogar com as culturas às quais dirigiam-se. Em outras palavras, evangelizaram, mas esquivaram-se de discipular. Ou, ainda, ficaram com medo das ímpias acusações de que estariam colocando paletó e gravata em índio, quando, na verdade, discipular de modo algum jamais foi a aplicação de “usos e costumes”, salvas tristes exceções praticadas por certos grupos aqui e ali. Abandonamos nossos irmãos neófitos não somente ao trabalho árduo e estúpido de reinventarem à roda, como os deixamos presas fáceis dos mercenários, lobos que vieram apenas para roubá-los, matá-los e destruí-los.

E agora? Precisamos voltar à tradição e colocar sobre nossas cabeças o chapéu da humildade. Gigantes da fé leram a Bíblia antes de nós e os frutos do Iluminismo revelam patentemente que esses gigantes a leram muitíssimo melhor do que nós (ao menos com maior temor e tremor). Enfim, ser conservador não é apoiar um partido de direita. Ser conservador é ter um passado, um legado ao qual devemos, primeiramente, aprender e, depois, dialogar.

Esclareceria ainda: sou um cristão conservador, porque não leio a Bíblia sozinho, mas isto não significa subserviência cega a quaisquer grupos. Ler a Bíblia reconhecendo que gigantes a leram antes de nós e que temos muito o que aprender com eles não confere autoridade inquestionável ao passado. O passado e as pessoas que viveram nele são falhos como nós somos: daí dialogarmos e não, simplesmente, acatarmos! É histórico os erros dos Pais da Igreja, da Idade Média, dos Reformadores, Puritanos, Pietistas, etc, assim como, por outro lado, é inegável que há luzes na modernidade e pós-modernidade que não podemos negar. Cabe, portanto, ao conservador cristão buscar o dom do discernimento em meio a um mundo tão confuso. Ou, nas palavras de Jesus, o cristão conservador deve ser “semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas” (Mt 13:52b).

Dilataria, portanto, a frase de Bem Shapiro da seguinte maneira: Somos conservadores e não, antes de tudo, apoiadores de um partido de direita, nem de uma Igreja, ou de um grupo religioso ou, à maneira dos idólatras, simples apoiadores de um suposto passado sacro-santo. Enfim, o que o conservador não pode abdicar é da característica que, verdadeiramente, mais nos faz humanos – o direito de pensar.  

Conheça Ben Shapiro:
Fonte: O Seringueiro

[1] e [2] - Adicionados ao texto pela ADHT.

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