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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Blogueiro Carlos Orsi quer proibir a discussão sobre a mudança de comportamento homossexual

 

LUCIANO AYAN

 

O blogueiro Carlos Orsi, do blog humanista Amalgama, como não poderia deixar de ser, lança um sem número de fraudes intelectuais em sua tentativa bizarra de transformar o homossexualismo em algo sacrossanto, justamente em uma época que, devido às conquisas dos lutadores pela liberdade de expressão, não deveríamos mais tolerar a existência de vacas sagradas – ou seja, grupos e idéias que não podem ser criticados.

Ele afirma que existe uma “postura acomodacionista, segundo a qual não há nenhum conflito de fundo entre ciência e religião”. Ele chega a citar o caso do criacionismo (onde teria havido um conflito entre ciência e religião, o que é falso, sendo no máximo um conflito entre uma deturpação da religião com uma teria científica) em uma analogia que não tem absolutamente nada a ver com aquilo que pejorativamente chamam de “cura gay”. Na verdade, a discussão a respeito de tratamentos para a mudança de comportamento homossexual é mais uma questão ética do que científica. A principal questão é: deve alguém ter o direito de mudar o seu comportamento caso este comportamento não lhe agrade, através de ajuda profissional? Do que resulta outra questão: será o comportamento gay o único comportamento que não pode ser mudado?

Assim, não existe absolutamente nada de “acomodacionismo” nesta questão, pois participantes de ambos os lados da luta pelo direito à opção estão se apoiando em pesquisas, portanto não temos um conflito entre fé X ciência, mas sim entre esquerdistas X direitistas, e os primeiros, como sempre totalitários, não querem que a questão seja sequer discutida. Ora, sendo que a questão é laica, psicólogos, tanto ateus como cristãos, podem usar o que quiserem para ajudar seus pacientes na mudança de comportamentos de que não gostam.

Quando Orsi cita o caso de Alan Turing, ele sabe que está fazendo uma chantagem emocional, covarde e torpe. Primeiro, por que Alan Turing foi forçado a se submeter a castração química para não ir à prisão. Se Turing, se suicidou, ao menos tinha seus atenuantes pessoais. O mesmo não pode ser dito de qualquer homossexual atual, pois nenhum deles é proibido por lei de exercer seu homossexualismo, e nem é forçado a se castrar quimicamente. Portanto, qualquer comparação com o caso Turing é frescura e chilique.

Orsi se incomoda com o naturalismo metodológico, que entende que a missão da ciência é buscar causas naturais para fenômenos naturais. E é essa a missão da ciência mesmo! Se um religioso quiser achar que a “AIDS foi enviada por Deus” não é a ciência que irá negá-lo, pois empiricamente sequer a suposta influência divina pode ser testada. Aliás, se a ciência não irá negar esta afirmação religiosa, também não irá afirmá-la. Honestamente, esta é a única posição científica aceitável.Segundo Orsi, no entanto, “a ciência põe o sobrenatural de lado não por uma questão de delimitação filosófica, mas porque ele é irrelevante”, o que é absurdo, pois existem até os parapsicólogos que tentam estudar o sobrenatural. Portanto, ele não é “deixado de lado”. Entretanto, algumas afirmações religiosas não são testáveis, e por isso não são parte do escopo científico.

Notem esta conclusão grotesca e pseudo-científica de Orsi: “O salto do irrelevante para o inexistente é filosoficamente questionável, mas pragmaticamente sólido. Então, neste ponto de vista, a ciência mostra que, para todos os fins práticos, o sobrenatural — inclusive Deus — não existe.”. Entretanto, mesmo que em termos científicos Deus não seja objeto de estudo (portanto não pode ser declarado como existente ou não pela ciência, e ele deveria saber disso), isso não implicaria sua inexistência pela aplicação do método científico. Mentir sobre a ciência tem sido um recurso covarde dos humanistas, mas enquanto este blog existir, continuarei demonstrando essas mentiras.

De qualquer forma, ressalto novamente. Isto não tem a ver com a questão da opção pela mudança do comportamento homossexual, e, mesmo que homossexualismo não seja considerado uma doença por (alguns) pesquisadores (mas não todos), isso não implica em um comportamento que não possa ser mudado. Entretanto, veja o que diz Orsi: “Some-se a isso o fato [na verdade, a opinião dele de que homossexulismo não é uma doença], também largamento atestado de que tentativas de “curá-la” levam a resultados inócuos ou (como no caso de Turing) trágicos. Então, por que o debate?”. Aha, eis que o totalitarismo gayzista aparece, como sempre (os tais atos falhos “não falham”). Ora, se Orsi está mentindo a respeito do caso Turing (pois ali não existiu uma tentativa de “cura” de seu homossexualismo, mas uma castração química), e ainda existem divergências em relação ao fato até do homossexualismo ser uma doença, então temos mais um motivo para estabelecermos um debate. O debate tem que existir pois a questão da proibição da mudança de opção homossexual se tornou uma causa política, não científica e nem religiosa. Quem não quer o debate é que está tomando a postura anti-científica, e este atende pelo nome de Carlos Orsi.

Segundo Orsi, um estudo de 2003 mostraria que “o desenvolvimento de uma identidade homossexual é um processo conectado a graves perigos (…) muitos adolescentes não recebem o apoio necessário porque a heterossexualidade é considerada a norma na maioria das culturas.” A conclusão dele seria a de que “patologia encontra-se, de fato, nas crenças e condicionamentos, não no homossexual”, mas uma mera análise das queixas de Orsi mostra exatamente o contrário. Se os homossexuais (não todos, espero) não conseguem conviver com o fato deles não serem considerados “a norma” do comportamento, e por isso precisam se suicidar (como fez Turing, embora sem um centésimo da gravidade do caso deste), o problema está com estes homossexuais. Pessoas bem resolvidas que pertençam a uma minoria não precisam se revoltar com o fato da maioria ser diferente deles e não achá-los “o padrão”. Deviam, pelo contrário, aprenderem a conviver com isso. Por isso, o problema não está na sociedade, mas nas pessoas incapazes de se adaptar a uma sociedade que não os criminaliza.

Para Orsi isso tudo isso é prova do “acomodacionismo”, mas sabemos que ele está apenas enrolando o leitor. Diz ele que “no paraíso do acomodacionismo, a ciência trata das questões de fato e a religião, das de moral”, o que é totalmente falso. A ciência trata dos aspectos observáveis empiricamente da natureza, e só, e a filosofia, que pode ser influenciada pelo que alguém queira (inclusive a ciência), trata das questões morais, em alguns aspectos havendo interfaces com questões políticas, e portanto, ideológicas.

Revoltado e enlouquecido, Orsi declara: “Acredito que esses dolorosos cabos-de-guerra continuarão a existir enquanto a comunidade científica insistir na versão, apenas aparentemente conveniente, do naturalismo como condição metodológica, de certa forma equivalente, no debate público, a preferências outras — por exemplo, a da revelação divina ou da exegese da Escritura. Da mesma forma que o criacionismo, nessa visão, pode ser abordado como “explicação alternativa” à evolução em aulas de teologia e religião, nada impede que a homossexualidade, eventualmente tratada de modo sóbrio e natural nas aulas de biologia ou de educação sexual, seja abordado como pecado vergonhoso nas de religião, reforçando, assim, a patologia social.”

Na verdade, os religiosos tem um argumento fortíssimo (que é a liberdade de consciência, garantida constitucionalmente, esperneie o humanista o quanto quiser) para, em suas aulas de religião (das quais seus adversários não precisam participar), continuar achando o homossexualismo um pecado vergonhoso. Os ateus conservadores também poderão continuar considerando o comportamento gay apenas tolerável, na mesma medida em que se tolera a bebedeira, mas nem de longe recomendável. Não há nada que se possa fazer pela ciência para impedir estas questões que são discutidas fora da ciência, inclusive a questão da liberdade de consciência. Sim, eu sei que isso frustra as ambições totalitárias de Orsi, mas é assim que devemos tratar a questão.

Entretanto, ele ainda proclama, empolgado: “O que precisamos, mesmo, é de mais gente disposta a proclamar, no debate público, o naturalismo como conclusão lógica da ciência: reafirmando, sempre que necessário, que o sobrenatural não pode ser fonte de autoridade a respeito de nenhuma questão, moral ou de qualquer outro tipo, porque, pura e simplesmente, ou não existe, ou existe, mas é irrelevante. Por conseguinte, seus arautos, usem eles ternos ou batinas, não sabem do que estão falando — e não deveriam ser levados a sério.”

É exatamente o oposto. Embora de fato não se deva aceitar a autoridade de pessoas que endossem suas idéias puramente na religião (embora os conservadores ateus nem de longe façam isso, e Orsi os eliminou da discussão desonestamente), também não devemos aceitar a falsa autoridade daqueles que mentem a respeito do que a ciência é não por uma questão científica, mas por uma indigna tentativa de se capitalizar politicamente fingindo-se que se está lutando por ela. Orsi busca apelar a uma autoridade que ele não tem, tanto quanto alguns que ele critica.

Todas as citações de Orsi a respeito “da ciência” não falam da ciência de fato, que não tem como intervir em questões morais, ideológicas e políticas, mas sim de uma falsificação do conceito de ciência. O objetivo dele é evidente. Como não consegue proibir o direito daqueles que não rezam pela cartilha gay de terem sua liberdade de consciência, quer proibi-los através de um falso apelo à autoridade. Como farsante que é, Orsi merece apenas que o dedo seja apontado em sua cara, que sempre deve ser exposta como um exemplo de safadeza intelectual.

Além do mais, o debate não está fechado, e se até a religião pode ser criticada por que o homossexualismo não pode? Resta a Orsi tentar provar, filosoficamente (se é que ele consegue), por que o homossexualismo é uma das raras categorias de comportamento que não podem ser criticadas. Se ele critica o apelo ao divino, de alguns religiosos, ao mesmo tempo tenta divinizar a figura dos gays. É claro que ninguém em sã consciência que pertença ao lado oponente deve tolerar tal fuga da realidade. Assim, pau que bate em Chico, bate em Francisco, e se a religião pode ser criticada, o homossexualismo também pode. Se os religiosos aprenderam a conviver com as críticas, que os homossexuais aprendam também.

P.S.: O post anterior, sobre Helena Gimenez foi comprovado como baseado em um hoax, e, portanto, excluído. (Grato ao Alexander Canust e ao JMK pela dica)

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