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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Revista Veja: Demografia mudando o rumo das nações

 

JULIO SEVERO

24 de setembro de 2012

Comentário de Julio Severo: O artigo da revista Veja, que disponibilizo abaixo, traz pontos interessante sobre demografia, pontos já amplamente cobertos por meu blog durante vários anos.

Mas a reportagem da Veja erra feio ao finalizar elogiando o envelhecimento demográfico de várias nações. Na opinião da Veja, uma população mais idosa é mais pacífica — em outras palavras, é mais domesticável e fácil de domar.

Veja interteprou uma população jovem como fonte de conflitos, em perfeita sintonia com o notório Kelatório Kissinger, documento do governo dos EUA elaborado na primeira metade da década de 1970 defendendo a redução drástica de populações de países em que os EUA têm interesses estratégicos de matérias-primas.

O infame relatório, cujos extratos em português foram traduzidos por mim no início da década de 1990 e disponibilizados neste link (http://www.providafamilia.org.br/doc.php?doc=doc17753), defendia ações do governo americano para manipular a ONU, o Banco Mundial, a Organização Mundial de Saúde e outras instituições internacionais em sua ambição de reduzir a população de outros países.

A consequência dessa redução é uma diminuição significativa do número de jovens e aumento de idosos. Hoje vemos as consequências das recomendações implementadas do Relatório Kissinger. Mas admira-me ver Veja elogiando o envelhecimento demográfico.

Para ter uma ideia do que será tal envelhecimento, recomendo a leitura de dois artigos antigos meus:

Quem sustentará os idosos?

Controle da mortalidade

Eis agora o artigo da revista Veja, cuja parte final elogiando o envelhecimento demográfico dispensei por sua completa inutilidade.

Pressões demográficas redesenham a arena política

O crescimento populacional nunca foi tão desigual, e as discrepâncias entre os perfis demográficos de países, grupos étnicos, religiosos e econômicos exercerão cada vez mais influência sobre as disputas pelo poder

Cecília Araújo

Em uma de suas assombrosas previsões, o francês Alexis de Toqueville cravou em 1835 que Estados Unidos e Rússia disputariam o futuro do planeta. A célebre passagem encerra o primeiro volume de A Democracia na América: "Existem hoje, sobre a terra, dois grandes povos que, tendo partido de pontos diferentes, parecem adiantar-se para o mesmo fim: são os russos e os anglo-americanos (...) O americano tem por principal meio de ação a liberdade; o russo, a servidão. (...) Cada um deles parece convocado, por um desígnio secreto da providência, a deter nas mãos, um dia, os destinos de metade do mundo".

Notas de rodapé mostram que o historiador se valeu de numerosos dados demográficos para antever a polarização que marcou o planeta no século XX: a população das grandes e pequenas cidades, o número de trabalhadores rurais, a proporção de escravos, índios, imigrantes, os grupos religiosos etc. Toqueville considerava que os americanos e os russos estavam então em franco crescimento demográfico, vindo a ocupar "amplos espaços vazios", ao contrário dos europeus, "que parecem ter chegado mais ou menos aos limites traçados pela natureza".

A análise certeira de Toqueville antecipa em quase dois séculos um campo hoje emergente das ciências sociais, a demografia política. Seu objetivo é vencer o fosso que separa a ciência política da montanha de dados populacionais, cujo tratamento matemático é cada vez mais sofisticado. Quando bem-sucedido, o esforço permite traçar cenários políticos com razoável grau de confiança. Que o digam os estrategistas de campanha, sempre prontos a moldar o discurso dos candidatos em função de eleitorados emergentes, como se vê tanto na disputa pela Casa Branca como na corrida pela prefeitura de São Paulo.

Os recados da demografia já estão no radar das campanhas mas ainda custam a chegar à gestão pública. "Não conheço uma Secretaria de Educação no Brasil que tenha um especialista em demografia, que saiba quantas crianças vão nascer nos próximos anos e, portanto, quantas escolas precisam ser abertas ou fechadas", exemplificou a VEJA o educador João Batista Araujo e Oliveira. É o que lamenta Jack Goldstone, professor da Universidade George Mason, em Virgínia (EUA). Daí o livro Demografia política: como as mudanças populacionais estão remodelando questões de segurança internacional e política nacional (em tradução livre), que editou em companhia de Eric Kaufmann, da Universidade de Londres, e Momica Duffy Toft, da Harvard. Lançada em junho de 2012, a obra alerta para as tendências que vão redesenhar o mundo até 2050.

Essas mudanças já estão em curso e em boa medida não têm precedente histórico. Isso porque o crescimento populacional nunca foi tão desigual. Goldstone resume: o mundo de amanhã não será simplesmente o mundo de hoje, só que com mais gente. As discrepâncias entre os perfis demográficos tanto de países como, dentro de suas fronteiras, dos grupos étnicos, religiosos e econômicos exercerão enorme pressão sobre a arena política, deem-se as disputas nas urnas, nos foros diplomáticos ou nos campos de batalha.

Bomba demográfica - Para sucessivos governos israelenses, desde o primeiro gabinete do premiê David Ben-Gurion, demografia é uma questão existencial. Yasser Arafat dizia que a altíssima fertilidade das mulheres palestinas (6,8 filhos em média na Faixa de Gaza) era a 'bomba biológica' que daria a 'vitória final' sobre os judeus. Por muito tempo, Israel compensou a diferença das taxas de fertilidade com políticas de estímulo a imigração. Mais recentemente, entrou no radar dos analistas uma nova força demográfica: os índices de natalidade de judeus ultraortodoxos (8 filhos por mulher), ainda mais altos que os de palestinos. Até 2025, 12% dos israelenses serão judeus ultraordoxos e pode-se prever que esta parcela da população passará a exigir crescente representação política.

A relação entre fervor religioso e fecundidade é conhecida dos demógrafos. As principais religiões são todas entusiastas do casamento e da procriação, com censuras ao divórcio, aborto e homossexualismo. Famílias muito religiosas são comumente mais numerosas que as seculares, o que vale tanto para fundamentalistas islâmicos, como judeus ultraordoxos e cristãos conservadores americanos. Esta diferença explica, por exemplo, a recente inversão no Líbano, onde muçulmanos passaram cristãos e hoje são maioria. Em 1971, um raro estudo sobre fertilidade das mulheres libanesas encontrou os seguintes números: sete filhos em média para muçulmanos xiitas, quase seis para sunitas, cinco para famílias drusas e entre quatro e cinco para cristãos.

A cartada evangélica - O Brasil também caminha para uma inversão de seu perfil religioso, e a razão é a emergência da população evangélica, em particular das correntes pentecostais e neopentecostais. Em 1970, 91,8% dos brasileiros eram católicos. Em 2010, eram 64,6%. Mantida a tendência, evangélicos e católicos se igualarão em no máximo 30 anos, mas desde já o crescente peso do eleitorado evangélico ganha o primeiro plano na disputa eleitoral.

Nos Estados Unidos, a mobilização do eleitorado evangélico é uma cartada eleitoral dos anos 1970 e já não tem a mesma força em 2012:o perfil demográfico americano está mudando, e até 2050 o país de protestantes anglo-saxões será composto majoritariamente por hispânicos, asiáticos e negros. Esta tendência é interpretada como um trunfo de longo prazo dos democratas, com quem as minorias, historicamente, têm maior afinidade.

Fonte: Revista Veja

Divulgação: www.juliosevero.com

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